Desacerto ou Pequena Crônica Antihomofóbica de Alguém Fora do Tempo
De repente o box de mensagem emerge. Oi tudo bem? Tudo!, respondo de forma protocolar. O nome da pessoa
indica ser uma amiga de velhos tempos da adolescência em Caicó, mas com a
evolução da conversa percebo, rapidamente, que não é a tal pessoa, apesar do
nome ser o mesmo. Putz...adicionei a pessoa por engano. Bem, mas vamos
lá...deixemos a conversa correr até onde for possível...
Não lembro bem como nem porquê, mas a certa altura da
conversa a criatura, do alto dos seus 17 anos, me diz que odeia gays. Pergunto se algum gay havia feito algum mal a ela. Não! Eu também evito que eles se aproximem. Vejo
nas fotos do perfil dela que a criatura usa piercings. Comento que conheço
pessoas que não toleram quem usa piercing. Pergunto o que ela pensa a respeito
e ela imediatamente responde: Pessoas
ignorantes. Há muita gente que usa piercing e que é do bem. Respondo que
também conheço muitos gays que são “do bem”. Aí vem a afirmação desconcertante:
Entendi. Você é daquelas pessoas
certinhas, né?
Certinho, eu??? Rsrs...Ingênuo ou (mais uma vez) “fora do
tempo”. Já beirando os 50 anos, sou de um tempo em que defender gays era estar
na contramão dos “certinhos”. Parece que estou “fora do tempo” de novo, pelas
mesmas razões, mas o mundo virou de ponta-cabeça.
Para encerrar a conversa e pôr um ponto final naquele
desacerto disse para minha interlocutora que até aquele momento acreditava que
os jovens traziam consigo a aura de um futuro melhor que o presente. Que é o
que as gerações que vão envelhecendo esperam das que estão entrando em cena,
mas que se a juventude fosse tomada por todo aquele preconceito, eu só poderia
esperar um futuro bem mais tenebroso do que é o presente.
Nem aguardei respostas.
Desfiz o engano e o desacerto.
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