Pequena autobriografia belchioriana
Um dia, pensei que preferia e precisaria andar sozinho. E disse para deixarem eu decidir a minha vida. Já não precisava que me dissessem de que lado nascia o sol, lá batia o meu coração. Na cidade do sol. Havia uma tristeza no ar. Mas eu era ainda muito moço pra tanta tristeza. Deixei coisas. Cuidei da vida, antes que chegasse a morte ou coisa parecida, chegasse e me arrastasse moço sem ter visto a vida. Ao chegar em Natal não era muito mais que apenas um rapaz latinoamericano, sem dinheiro no banco, sem parentes importantes e vindo do interior. Resolvi ficar na cidade e não voltar pro sertão, pois via vindo no vento o cheiro de novas estações para mim e para o mundo. Buscava a paixão fundamental, edípica e vulgar, de inventar meu próprio ser. Algumas vidas entraram em mim como um sol no quintal, houve amores profundos, transas casuais. Gozei em céus e infernos. Fiz canções corretas, brancas, suaves, muito limpas e leves, mas também vocalizei sons, palavras como navalhas, porque e