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Mostrando postagens de fevereiro, 2009

Yansã no carnaval de Caicó

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Yansã é um orixá feminino dos ventos e das tempestades. Stan Lee, o criador dos X-Men, deve ter se inspirado nela para criar o personagem "Tempestade"...Bem, delírios à parte, Yansã esteve em Caicó por esses dias, especificamente, em plena sexta-feira de Carnaval. Não é comum ela frequentar essas bandas áridas, mas ela chegou. Súbita. Intensa. Os relâmpagos riscaram o céu e os trovões rugiram anunciando sua chegada. E assim foi que os foliões foram surpreendidos com a enxurrada de água. Salvaram-se apenas aqueles que já estavam protegidos sob o telhado de suas casas - esses em razão, até, da renúncia à folia - e os bebuns fiéis do Bar de Ciço, que lá dentro estavam, lá dentro ficaram. Este humilde aprendiz de cronista - guarda-chuva em punho - circulou pelas ruas molhadas para testemunhar essa passagem de Iansã, que quando ocorrre sempre nos dá alegria, pois é quando todos saem para tomar banho de chuva, se esbaldar nas águas que ela envia do alto, para pintar a nossa (bela)

Pedindo a benção do Capitão Virgulino

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Num dos momentos mais emocionantes de minha viagem às margens do Rio Opará (também conhecido como Rio São Francisco), fiz o trajeto da volante comandada pelo Tenente Bezerra, que resultou na emboscada que matou o Capitão Virgulino, Maria Bonita e mais alguns de seus companheiros de cangaço. É uma trilha (ainda) de difícil acesso. Demoramos 30 minutos para chegar na Grota de Angico, local do assassinato dos cangaceiros, conduzidos por uma guia de nome Neide. Éramos algo em torno de 30 pessoas. Ao chegármos no lugar exato onde ocorreu o massacre, Neide tentou fazer uma reflexão sobre o fenômeno do cangaço indicando a dificuldade de se julgar Lampião nos marcos da dualidade Bandido-Mocinho. Antes mesmo de ela terminar sua reflexão, uns dois participantes já foram dando seu veredicto: Bandido! Ainda assim Neide tentou (um tanto quanto inutilmente) convencê-los que não era possível resumir tudo a essa dualidade. Fiquei pensando que diante de esquemas conceituais e perspectivas organizadas n

Carta Lorosa'e 2

Reproduzo aqui a letra de mais uma música do grupo O Teatro Mágico, trilha sonora do meu retorno de viagem de férias...Adoro a força poética de suas músicas. Bom final de semana a todos e todas. CUIDA DE MIM (Fernando Anitelli) Pra falar verdade, às vezes minto Tentando ser metade do inteiro que eu sinto Pra dizer as vezes que às vezes não digo Sou capaz de fazer da minha briga meu abrigo Tanto faz não satisfaz o que preciso Além do mais, quem busca nunca é indeciso Eu busquei quem sou; Você, pra mim, mostrou Que eu não sou sozinho nesse mundo. Cuida de mim enquanto não esqueço de você Cuida de mim enquanto finjo que sou quem eu queria ser. Cuida de mim enquanto não me esqueço de você Cuida de mim enquanto finjo, enquanto finjo, enquanto fujo. Basta as penas que eu mesmo sinto de mim Junto todas, crio asas, viro querubim Sou da cor, do tom, sabor e som que quiser ouvir Sou calor, clarão e escuridão que te faz dormir Quero mais, quero a paz que me prometeu

Maria Mortalha

Pensando no encontro de Dona Raimunda com a morte, lembrei-me de uma poesia maravilhosa denominada “Maria Mortalha”, de autoria da poetisa Maria da Graça Almeida, enviada a mim pelo grande amigo e poeta Gilmar Leite. Lá vai: "Cedo, deitou-se Maria, pronta pra logo morrer, vestindo a alva mortalha, sem medo de adormecer. Os olhos tanto mais fundos, coroados por olheiras, cerravam-se moribundos, nessa hora derradeira. Implorando-lhe ajuda, veio um moleque qualquer: - Vó, apanha uma agulha, me tira o bicho do pé! Servil, levanta a Maria, desvestindo a alva mortalha e já mais morta que viva, do pé, o bicho estraçalha. Volta, esvaída, Maria para o bom leito de morte, quando lhe chega a nora , chorando a fome e a sorte. Maria, do quarto, dormente, sai e aquece o fogão, serve-lhe o leite fervente e duros nacos de pão. Com a fome, então, saciada e o corpo fortalecido, parte a jovem senhora com olhos agradecidos. Maria, assim, novamente, põe-se no leito de palha, julgando que, certament

As mortes e a morte de Dona Raimunda

Durante a minha recente viagem de férias, numa das vezes em que liguei para o meu povo em Caicó, soube de uma notícia triste: da morte de Dona Raimunda, uma pessoa que por muito tempo foi um apoio importante na minha vida, tendo me ajudado a cuidar de meu filho mais novo, Cauê. Há uma faceta sua que me chamava a atenção: costumava ficar atenta ao rádio enquanto trabalhava, atenta às notícias de morte de alguém na cidade. O objetivo era, principalmente, saber quando e onde aconteceria o velório para que ela fosse lá visitar o defunto. Não precisava que fosse alguém conhecido. Tratava-se de uma curiosa mescla de solidariedade com os mortos e sua família, com um irreprimível pulsar de proximidade com a morte. Proximidade esta que ocorreu ainda quando jovem, por ocasião de uma de suas idas às festas que aconteciam na antiga Palhoça (hoje sede do Atlético Clube Corintians). Lá ela passou a noite inteira dançando com um indivíduo conhecido à época como Chico Timbaúba. Este homem, após sair

Nossa Senhora das Correntes

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Em Penedo há uma Igreja que pertenceu a uma antiga e poderosa família portuguesa – Lemos – que foi influente na cidade por muito tempo. Uma família construir uma Igreja para si mesma era um costume muito comum no Brasil Colônia. Era uma forma da família estreitar laços com o poder da Igreja. Mas, ainda que fosse bastante influente e dominante na região, os principais membros da família eram contra a escravidão e mantinham um esquema de falsificação de cartas de alforria que viabilizou a liberdade para muitos escravos da região, especialmente os que atravessavam o Rio São Francisco, vindos das fazendas do lado de Sergipe em direção a Penedo, em Alagoas. A Igreja denomina-se Nossa Senhora das Correntes, apropriadamente, pois os escravos nadavam à noite e ao chegarem no outro lado da margem buscavam a Igreja dos Lemos, onde ficavam escondidos dentro de um compartimento diminuto – que cabia apertadamente em torno de 4 escravos – ao lado de um dos altares, durante os momentos em que se dava

Rocheira...

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Um forte fantasma...Às margens do Opará (ou São Francisco, como foi nomeado por Américo Vespúcio) em Penedo, onde hoje se localiza a Rocheira, havia um forte no formato de estrela como o nosso Forte dos Reis Magos. Construído pelos holandeses, ele foi palco de uma batalha cujo desfecho foi a vitória das tropas portuguesas chefiadas pelo negro Henrique Dias. Vencida a batalha, o comandante percebeu a impossibilidade de manter-se naquele forte. Não havia como tomá-lo e manter aquelas tropas ali. O que fizeram então? Destruiram-no...e o tempo consumiu as ruínas e hoje não há nenhum resquício dessa fortaleza.

Impressões de viagem às margens do Rio Opará

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Há anos não tinha dias inteiramente dedicados a mim mesmo. Este ano tive. O cancelamento do início de atividades de um Projeto somada à minha disposição em “sair do ar” foram determinantes. Fiz um roteiro bacana. O objetivo era conhecer duas cidades que margeiam o rio São Francisco: Penedo-AL e Canindé do São Francisco-SE. Como de Natal para lá são aproximadamente 10h de viagem, resolvi fazer pausas em Recife (na ida), Maceió e João Pessoa (no retorno). Como não dá para numa única postagem falar de tudo, então farei como Jack (o estripador), será “por partes”. Primeiro, então, falarei sobre Penedo-AL que carrega o título de Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural do Brasil. Uma cidade maravilhosa. Um esplendor de casarios construídos durante o século XVIII. Uma espécie de Ouro Preto encravado no Nordeste. É claro que estou me referindo à parte antiga da cidade, pois há uma parte “nova”). Segundo me informaram lá, Penedo foi a quarta cidade fundada no Brasil (há controvérsias) e

Carta Lorosa'e

De retorno das férias, postarei algumas impressões de minha viagem à fronteira de Alagoas com Sergipe. Por enquanto, o que me mobiliza é publicar a letra de uma bela música do grupo O Teatro Mágico, ouvida no trajeto de retorno à Cidade do Sol. Abraços a todos e todas... O Anjo Mais Velho Composição: Fernando Anitelli "O dia mente a cor da noite E o diamante a cor dos olhos Os olhos mentem dia e noite a dor da gente" Enquanto houver você do outro lado Aqui do outro eu consigo me orientar A cena repete a cena se inverte Enchendo a minh'alma d'aquilo que outrora eu deixei de acreditar Tua palavra, tua história Tua verdade fazendo escola E tua ausência fazendo silêncio em todo lugar Metade de mim Agora é assim De um lado a poesia, o verbo, a saudade Do outro a luta, a força e a coragem pra chegar no fim E o fim é belo incerto... depende de como você vê O novo, o credo, a fé que você deposita em você e só Só enquanto eu respirar Vou me lembrar de você Só enquanto eu respi