Posse da Dilma e Despedida de Lula

Para quem não tem um olhar "histórico" não parece muito, mas ver a Dilma tomando posse e o Lula se despedindo do povo sem medo de andar na rua, é algo muito gostoso de se ver. Faço parte de uma geração que herdou as dores dos que, como Dilma, foram presos e torturados e tiveram seus melhores momentos de juventude dedicados a uma luta desigual contra uma ditadura brutal. Minha geração herdou, também, a desigual e dificultosa tarefa de construir, do nada (a não ser nossas próprias forças e vontades), um Partido que desafiava a direita (a moderna, tipo José Agripino Maia, e a velha, dos coronéis como Dinarte Mariz) e a esquerda (dos que entendiam que só seria possível fazer política dentro do PMDB), e que, portanto, teve nos nossos braços, mentes e na nossa respiração, a única possibilidade de dar certo. E deu. Está dando. Com erros e acertos, o PT - que em seus primórdios não tinha mais que um bando de militantes e uma ou outra kombi para circular por um Estado inteiro nas suas primeiras campanhas eleitorais - conseguiu firmar-se como um dos principais partidos da democracia brasileira. Lula, que por pouco não integrou as estatísticas dos brasileiros que morreram de fome, tornou-se uma liderança não apenas nacional, mas internacional.
Muitos duvidaram disso. Uma certa elite herdeira das tradições escravocratas (para quem pobres e trabalhadores devem reverência irrestrita e perene aos ricos e poderosos), primeiro tripudiou do partido e dessa liderança; depois riu das ousadas candidaturas e aventuras eleitorais (ainda no início dos anos 1980); depois começou a se assustar com a força que vinha das ruas e das organizações sindicais. Desde então se tornaram a principal força contrária ao PT, à esquerda, aos movimentos sociais e toda e qualquer inciativa que colocassem os pobres e os trabalhadores em condições de alcançar e exercer direitos básicos (direito de acesso ao consumo soberano de bens e serviços). Para alguns analistas, mesmo mais conservadores, o Governo Lula entrará para a história como um Governo que se preocupou com "o social", leia-se, um governo que estimulou a democratização do acesso a padrões mínimos de renda, capazes de instaurar mobilidades sociais, assim como viabiizou mecanismos que possibilitam uma redução da desigualdade de acesso a bens como o Ensino Médio (inclusive no nível Técnico) e a universidade.
Algumas esquerdas viram nessa trajetória o desdizer de um caminho idealizado por elas como o melhor e mais bonito. E talvez fosse, se a realidade não fosse algo maior que nossa capacidade de sonhar os melhores sonhos. O movimento do real se impõe para nos dizer que nossos sonhos são apenas isso: sonhos, cuja possibilidade de se tornarem realidade está na nossa capacidade de fazermos esse namoro entre nossos desejos e a realidade tal como ela é (resultado da realização de tantos outros desejos legítimos como os nossos e tão diferentes - e até opostos - dos nossos).
Os personagens principais da posse representam um outro Brasil não planejado pela elite mais conservadora e reacionário de nosso país. E só isso já seria motivo de júbilo.
Que tenhamos um governo mais democrático. Mais aprofundador de conquistas e direitos. Mais eficiente no combate à corrupção...

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Briga na Procissão, de Chico Pedrosa

O nascimento de Peri

O Evangelho segundo o TACEJA