Escola-prisão: quando Michel Foucault "baixou" em Caicó

A última vez que estive em Caicó foi para o aniversário de minha sobrinha. No caminho da casa de minha mãe para lá é inevitável não passarmos de frente à Escola Kennedy. Qual não foi minha surpresa, ao olhar para a escola me dou conta (assustadíssimo!) que a fachada da escola era composta de janelas e um enorme portal corrediço que (aposto) fica a maior parte do tempo fechado. Imediatamente fiz a foto acima.
Conheço a escola. Antes, sua fachada era diferente: havia um espaço de circulação que antecedia as salas de aula. Esse espaço de circulação era atravessado por uma ventilação (na medida do possível em se tratando de Caicó) que entrava exatamente pela frente do prédio, que tinha grades de ferro. Nas laterais desse prédio, apenas janelas (das próprias salas) davam visibilidade do exterior da escola.
Na época em que visitei a escola muitas reclamações haviam sobre o fato de que os carros de som de publicidade não respeitavam a escola e as aulas tinham que ser suspensas naqueles momentos em que os carros circulavam por ali. A quentura era grande.
Se já não bastasse o poder público não zelar pela qualidade sonora ao redor da escola, ainda permitiu que se construísse um posto de gasolina bem ali perto...parece que esqueceram determinadas normas de segurança...
É verdade que a escola precisava de mais espaço. Por ser central, deve ser objeto de uma grande demanda populacional, mas a reforma que fizeram tornaram a escola mais parecida com uma prisão, tornando mais visível uma ideia há tempos apresentada pelo francês Michel Foucault de que as estruturas arquitetônicas das escolas lembram prisões e materializam a perspectiva de que os alunos têm que estar presos e sob vigilância.
A alternativa gestada foi, de fato, a mais barata: construíram salas onde havia um espaço de circulação, mas esteticamente ficou horrível, e duvido que lá esteja mais ventilado que antes.
Mas, só não me impressiono mais porque já me acostumei com a falta de cuidado que nossas elites locais têm com o patrimônio arquitetônico da cidade. Vejam o Mercado Público, o Sobrado do Pe. Guerra (Casa de Cultura Popular), o Centro Cultural, alguns casarões próximos à Praça da Liberdade, o CEJA, o Senador Guerra...o Castelo de Engady...o Poço de Santana...

Comentários

dra.neurawm disse…
Mesmo você tendo se esforçado em fazer uma descrição da escola anterior a reforma, como leitora que não conhece Caicó, fiquei sem parâmetros para saber qual a dimensão daquilo que você estava falando, embora a imagem fale por si! Fiquei surpresa ao encontrar uma foto antiga da escola Kenedy de Caicó no google!!! Veja lá uma postagem num blog feita no dia 26/02/2008:

http://www.sneri.blog.br/?m=200802

A imagem da escola já não era bonita antes da reforma, mas concordo contigo que do jeito que ficou lembra mais uma cadeia pública, uma prisão com tudo que ela representa, alerta que Michel Foucault fez em sua obra!
Mas será que essa foi a saída mais barata mesmo? Bom gosto custa tão pouco!!! Sinceramente? Acho que a prefeitura de Caicó anda muito, mas muito mal de arquitetos!!!

Abraçoscomlaços,

Neura Maria Weber Maron

Postagens mais visitadas deste blog

Briga na Procissão, de Chico Pedrosa

A intempestividade da proposta de desfiliação do ADURN ao PROIFES

PROIFES e ANDES-SN: quando enfatizar diferenças é sinal de fraqueza