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Mostrando postagens de março, 2009

Fragmento de uma leitura recente: a Yelda

"No afeganistão, a Yelda é a primeira noite do mês de jadi , a primeira noite do inverno, e a mais longa do ano. Como mandava a tradição, Hassan e eu ficávamos acordados até mais tarde, com os pés enfiados debaixo do kursi , enquanto Ali atirava cascas de maçã no fogareiro e nos contava velhas histórias de sultões e de ladrões para passar o tempo dessa noite que era a mais comprida de todas. Foi por meio de Ali que fiquei conhecendo a tradição da yelda , daqueles meses enfeitiçados, que se precipitam para as chamas das velas, e dos lobos que sobem ao alto das montanhas em busca do sol. Ali jurava que quem comesse melancia na noite da yelda não sentiria sede durante o verão seguinte. Quando fiquei mais velho, li nos meus livros de poesias que a yelda era a noite sem estrelas em que aqueles que sofrem por amor permanessem acordados, suportando a escuridão interminável e esperando que o nascer do sol traga consigo a pessoa amada." (Khaled Hosseini, "O Caçador de pipas&qu

Mensagem de Augusto Boal sobre o Dia Internacional do Teatro

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Bem, o final de semana se aproxima...quem puder ir a um teatro, vá ver meus queridos Ênio e Rodrigo Bico em "A ida ao teatro", no Teatro de Cultura Popular, da Fundação José Augusto, coisa de 20h...Falando nisso, hoje é o Dia Internacional do Teatro e recebi de alguns amigos um texto produzido pelo Augusto Boal (um dos maiores homens de teatro do mundo). Muito bom, deixo-os com ele: "Teatro não pode ser apenas um evento - é forma de vida! Mesmo quando inconscientes, as relações humanas são estruturadas em forma teatral: o uso do espaço, a linguagem do corpo, a escolha das palavras e a modulação das vozes, o confronto de idéias e paixões, tudo que fazemos no palco fazemos sempre em nossas vidas: nós somos teatro! Não só casamentos e funerais são espetáculos, mas também os rituais cotidianos que, por sua familiaridade, não nos chegam à consciência. Não só pompas, mas também o café da manhã e os bons-dias, tímidos namoros e grandes conflitos passionais, uma sessão do Senado

Hora do planeta

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A Hora do Planeta, conhecida globalmente como Earth Hour, é uma iniciativa global da Rede WWF sobre mudanças climáticas. No sábado, dia 28 de março de 2009, às 20h30, pessoas, empresas, comunidades e governo são convidados a apagar suas luzes pelo período de uma hora para mostrar seu apoio ao combate ao aquecimento global. Na primeira edição, realizada em 2007 na Austrália, 2 milhões de pessoas desligaram suas luzes. Em 2008, mais de 50 milhões de pessoas de todas as partes do mundo aderiram à ação. Em 2009, a Hora do Planeta pretende atingir 1 bilhão de pessoas em mil cidades. O WWF-Brasil participa pela primeira vez da Hora do Planeta, um ato simbólico, que será realizado dia 28 de março, às 20h30, no qual governos, empresas e a população de todo o mundo são convidados a apagar as luzes para demonstrar sua preocupação com o aquecimento global. http://www.wwf.org.br/ informacoes/horadoplaneta/

Carta Lorosa'e 3

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Meu canto, tanto de tanto de dois mil e tanto. Tantos "tanto" é para dizer como tanto silêncio produz tanta angústia. Tantos "tanto" é para dizer como tenho tanto quanto tudo para falar quanto tenho para silenciar. Tantos "tanto" é para dizer que aquele chaveirinho com a marca do Super-Homem (nem tanto super assim) - comprado por tantos reais, há tantos minutos antes de um filme e tanto - anda pendurado no retrovisor interno do meu carro, balança tanto para lá quanto para cá... Tanto para o oriente quanto para o ocidente. Tantos "tanto" é para lembrar que ainda há um tanto daquele sabonete líquido Leite e Mel, à espera de um banho e tanto. Contanto que haja generosidade e tanto. Perdão e tanto. Desejo tanto quanto... Tantos tanto é para dizer que aquele casal de barro, comprado a um custo um tanto baixo, Um tanto sem-vergonhas... Continuam ativos..atentos...rindo de minha solidão e de minha saudade. Tantos "tanto" é para anunciar que sa

Carta Aberta à Praça da Liberdade

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Como escrevi na postagem anterior, estou publicando a minha Carta Aberta à Praça da Liberdade, escrita a partir de uma profunda rejeição a uma notícia (dada de forma solene, à época, durante apresentação musical da cantora Dodora Cardoso) de que a Praça teria uma estátua consagrada ao ex-Senador (já falecido) Dinarte Mariz. A notícia, tempos depois, tornou-se realidade. E hoje, quem passa pela praça vê a estátua apontando o dedo para o infinito... Dias depois de ouvir a tal notícia, sentei no meu computador escrevi a carta que segue. Foi publicada à época no sítio www.seol.com.br (hoje desativado). A partir da provocação do poeta Moacy Cirne, achei oportuno republicá-la. Abraços a todos e todas. "Querida Praça, Te escrevo de Natal, distante de ti cerca de 300 km. Volta e meia, quando estou em Caicó, andando de um canto a outro da cidade, eis que cruzo com tua presença. Sendo final da tarde, como sabes, resolvo dar uma sentadinha nos bancos e ficar contemplando o passar de gente. V

Sobre as alegrias e as tristezas de Caicó

O poeta Moacy Cirne, caicoense como eu, publicou em seu blog (Balaio Porreta 1986) o texto abaixo cujo título e conteúdo nos remete às preocupações de vários de nós que nascemos e crescemos ali e alimentamos um carinho próprio dos prisioneiros a raízes. O texto dele lamenta o avanço de um determinado modelo de se pensar o espaço urbano local em detrimento do respeito aos aspectos históricos que fazem (ou faziam) o que ele chama de "caicocidade" daquela gente. Ele se pergunta onde está a tal "caicocidade"...ela anda se perdendo por aí, em velocidade crescente...Está sufocada por debaixo da água poluída do Poço de Santana. Está espremida nas praças que perderam nomes e cores e ganharam o singelo e estúpido rótulo de "Praça da Alimentação"...Está perdida numa multidão que se sente orgulhosa de se dizer seridoense e não consegue explicar porque... Publico aqui o texto dele e postarei um texto antigo meu em que discuto um pouco isso, através de uma Carta Ab

Para quem pensa que o mundo não muda...

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Não sei vocês meus queridos leitores, mas eu fiquei bastante feliz em ver o Lulão ser recebido pelo Obama na Casa Branca. Não, não é por causa de meu passado vermelho, nem porque eu votei em Lula (desde 1989) que emerge essa felicidade. Apenas que ao vê-los fiquei pensando o quanto meus avós achariam improvável tal cena: um presidente americano negro apertando a mão de um presidente brasileiro de extração popular. Quantos jornalistas ficaram com uma coceirinha nos fundilhos...rs...Quantos se esquivaram de comentar o simbolismo desse encontro, apenas realçando a sua importância no que tange a crise que assola todos. Uma cena improvável de ocupar os textos de quaisquer futurólogos. Uma cena que simboliza um deslocamento importante nas forças sociais e políticas dos dois países. Não adianta discutirmos as concepções políticas neo isso, pré-aquilo ou pós-aquilooutro que eles eventualmente seja representantes...Nem um seminário de uma semana faria com que chegássemos a alguma conclusão. Tra

O custo da crise e o custo da fome.

Publico aqui um texto de Mentor Muniz Neto, diretor de criação e sócio da Bullet, uma das maiores agências de propaganda do Brasil, sobre a crise mundial. O texto me foi enviado pelo meu parceiro Carlos José, da CGU e está circulando... "Vou fazer um slideshow para você. Está preparado? É comum, você já viu essas imagens antes. Quem sabe até já se acostumou com elas. Começa com aquelas crianças famintas da África. Aquelas com os ossos visíveis por baixo da pele. Aquelas com moscas nos olhos. Os slides se sucedem. Êxodos de populações inteiras. Gente faminta. Gente pobre. Gente sem futuro. Durante décadas, vimos essas imagens. No Discovery Channel, na National Geographic, nos concursos de foto. Algumas viraram até objetos de arte, em livros de fotógrafos renomados. São imagens de miséria que comovem. São imagens que criam plataformas de governo. Criam ONGs. Criam entidades. Criam movimentos sociais. A miséria pelo mundo, seja em Uganda ou no Ceará, na Índia ou em Bogotá sensibiliza

Poema sem nome...em honra ao Dia Nacional da Poesia...

Esse poema escrevi num certo evento do PRONERA em março de 2005...em João Pessoa...nasceu súbito...sob o estímulo de uma aparição graciosa, radiante, doce e tranquila...Hoje, ao acordar mando beijos de minha janela para que ela os receba como garrafas jogadas ao oceano...como o poema não tem nome, aceito sugestões...Aí vai... Cato meus pequenos côcos espalhados e caídos na beira da praia. Deitados na areia, rodopiam, empurrados pelas ondas calmas e massageantes do meu eu. Cato os cacos de mim espalhados no chão. No chão da feira onde se misturam restos de frutas e verduras, pisadas, cuspidas, desprezadas, apodrecidas e desgastadas pelos gritos de venda. No chão da sala de aula que abriga dúvidas e certezas, falas e silêncios, sisudezas e comédias. A escuridão das luzes e a claridade dos que vivem na obscuridade. No chão melódico das cantigas não cantadas, das histórias não contadas, dos ditos não ditos e dos feitos não feitos. Juntados meus cacos, catados meus pequenos côcos, eis-me aq

Mortes e novas vidas em vista

Esta semana tive duas notícias de morte que me deixaram muito tristes. Mortes não de pessoas, mas de experiências. Estive perto de ambas. Participei de ambas e, portanto, a morte delas é como a perda de um pedaço de mim. Uma delas foi a Escola Cooperativa, sobre a qual já postei um comentário aqui no início do ano, divulgando a todos que aqui aportam a oportunidade de matricular filhos, parentes, e filhos de parentes e vizinhos na escola. Mas eu soube que a escola não conseguiu reunir um número de estudantes que a viabilizasse. Como se trata de uma Escola Cooperativa (e não de um empreendimento lucrativo), sua manutenção dependia diretamente do número de matrículas alcançadas. Apesar da dedicação de muitos dos seus profissionais mais identificados com a causa cooperativista, não foi possível a continuidade das atividades. Uma perda para todos. Pelo que soube, o Grupo de Teatro coordenado pela profa. Monique (que sempre teve uma relação muito próxima com a história da escola) deverá con

Elogio às Bruxas, por Marcos Rolim

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O texto abaixo é um excelente e belo discurso pronunciado pelo (então) deputado estadual do PT-RS Marcos Rolim, por ocasião da passagem do Dia Internacional da Mulher. O discurso foi pronunciado no dia 8 de março de 1991. Na época não havia internet mas de tão belo o texto circulou. Ainda hoje merece ser lido e refletido, podendo ser acessado diretamente na página do Marcos (que não é mais deputado), pelo endereço http://www.rolim.com.br/discur3.htm . Ao publicá-lo faço das palavras do Marcos Rolim minha homenagem à essas criaturas que, com certeza, são a mais fiél manifestação da Transcendência...um beijo a todas elas. "Sr. Presidente, Sras. Deputadas. Srs.Deputados. Transcorre amanhã o Dia Internacional da Mulher, homenagem que se universalizou em lembrança ao martírio das operárias americanas queimadas quando da ocupação de uma fábrica em 1857. A data em si evoca a dor, mas, também, a resistência e o heroísmo. Veremos, Sr. Presidente, como uma história das mulheres só

Conhecimento e sensibilidade

Este texto foi escrito inspirado por uma leitura do "Elogio à Educação", de Neidson Rodrigues...Me levou a pensar...Aqui vai... Há uma tradição que associa a busca do conhecimento a uma atividade cansativa, exaustiva, sacrificiante, reservada a alguns poucos abnegados, capazes de se submeter disciplinarmente a rotinas, através das quais acumulam e reproduzem conhecimento (às vezes) para autoconsumo ou para consumo/uso dos meros “mortais”, resignados na ignorância. Os gregos nos legaram uma interessante relação entre prazer e conhecimento, através do costume de cultuar Dionísio no templo de Apolo. Senão vejamos: Apolo, junto com sua irmã Athena, constitui o espectro de deuses da Inteligência. Os gregos recorriam a ele para que pudessem refletir à luz da razão sobre seus destinos. Mas, é exatamente no interior do seu templo, lugar da sobriedade, da luz e da razão, que os gregos também convocavam a presença de Dionísio, deus da sensualidade, do prazer e da alegria, para comemora