Sobre as alegrias e as tristezas de Caicó
O poeta Moacy Cirne, caicoense como eu, publicou em seu blog (Balaio Porreta 1986) o texto abaixo cujo título e conteúdo nos remete às preocupações de vários de nós que nascemos e crescemos ali e alimentamos um carinho próprio dos prisioneiros a raízes. O texto dele lamenta o avanço de um determinado modelo de se pensar o espaço urbano local em detrimento do respeito aos aspectos históricos que fazem (ou faziam) o que ele chama de "caicocidade" daquela gente.
Ele se pergunta onde está a tal "caicocidade"...ela anda se perdendo por aí, em velocidade crescente...Está sufocada por debaixo da água poluída do Poço de Santana. Está espremida nas praças que perderam nomes e cores e ganharam o singelo e estúpido rótulo de "Praça da Alimentação"...Está perdida numa multidão que se sente orgulhosa de se dizer seridoense e não consegue explicar porque...
Publico aqui o texto dele e postarei um texto antigo meu em que discuto um pouco isso, através de uma Carta Aberta à Praça da Liberdade. Abraços a Moacy. E a todos os caioenses que não se perderam no caminho.
"HIBERNAÇÃO (Hercília Fernandes)
É inverno.
A chuva cai servil
sem trégua
enquanto meu peito solitário hiberna
o gosto estatutário das ruínas,
das quimeras...
CAICÓ, ALEGRIA E TRISTEZA
Caicó sempre emociona. Reencontrá-la sob um céu cinza-chumbo-alumbramento prenunciando a chuva (que viria à noite), alegria maior do sertanejo, não é para qualquer (sobre)vivente. Sim, é verdade, ainda sou capaz de ver a Caicó de hoje com os olhos da criança - e do adolescente - que fui nos anos 50. Suas pedras, seus serrotes, seu casario, suas águas, suas ruas, seus becos, seus mistérios, suas alumbrações. E suas mulheres. E seus doidos. E suas cercas de pedras. E seu seridoísmo. Ainda existirá a Caicó do meu tempo? Cadê o Cinema Pax? Acabaram com ele. Cadê a Praça Dr. José Augusto. Acabaram com ela. Cadê a Festa dos Negros do Rosário? Ao que consta, sumiu do mapa. E curto é o caminho que vai da alegria à tristeza.
A destruição do nosso espaço visual urbano não começou hoje, é preciso reconhecer. O poder público em Caicó (assim como a sua elite econômica) é criminosamente insensível em se tratando do patrimônio histórico-arquitetônico da cidade. Nos anos 80 do século passado, permitiu a destruição do belo casarão que, na Praça da Liberdade, abrigara, no final do século XIX, a redação d'O Povo, primeiro jornal republicano do Estado. E agora, para completar, está reformando de maneira absurda o Mercado Público, inaugurado em 1918, desfigurando quase por completo a sua tradicional fachada. Assim como está desfigurando a Praça Dr. José Augusto, que de praça não tem mais nada. Em nome de um discutível "progresso", já há vários espigões que enfeiam a nossa Queicuó. Será que, mais cedo ou mais tarde, o poder público ousará destruir a Praça da Matriz? Ou o coreto da Praça da Liberdade?
Pobre Caicó! E pobre da cidade que não preza (e não conhece) sua própria história. É o caso de se perguntar: cadê a "caicocidade" de sua gente?
Ele se pergunta onde está a tal "caicocidade"...ela anda se perdendo por aí, em velocidade crescente...Está sufocada por debaixo da água poluída do Poço de Santana. Está espremida nas praças que perderam nomes e cores e ganharam o singelo e estúpido rótulo de "Praça da Alimentação"...Está perdida numa multidão que se sente orgulhosa de se dizer seridoense e não consegue explicar porque...
Publico aqui o texto dele e postarei um texto antigo meu em que discuto um pouco isso, através de uma Carta Aberta à Praça da Liberdade. Abraços a Moacy. E a todos os caioenses que não se perderam no caminho.
"HIBERNAÇÃO (Hercília Fernandes)
É inverno.
A chuva cai servil
sem trégua
enquanto meu peito solitário hiberna
o gosto estatutário das ruínas,
das quimeras...
CAICÓ, ALEGRIA E TRISTEZA
Caicó sempre emociona. Reencontrá-la sob um céu cinza-chumbo-alumbramento prenunciando a chuva (que viria à noite), alegria maior do sertanejo, não é para qualquer (sobre)vivente. Sim, é verdade, ainda sou capaz de ver a Caicó de hoje com os olhos da criança - e do adolescente - que fui nos anos 50. Suas pedras, seus serrotes, seu casario, suas águas, suas ruas, seus becos, seus mistérios, suas alumbrações. E suas mulheres. E seus doidos. E suas cercas de pedras. E seu seridoísmo. Ainda existirá a Caicó do meu tempo? Cadê o Cinema Pax? Acabaram com ele. Cadê a Praça Dr. José Augusto. Acabaram com ela. Cadê a Festa dos Negros do Rosário? Ao que consta, sumiu do mapa. E curto é o caminho que vai da alegria à tristeza.
A destruição do nosso espaço visual urbano não começou hoje, é preciso reconhecer. O poder público em Caicó (assim como a sua elite econômica) é criminosamente insensível em se tratando do patrimônio histórico-arquitetônico da cidade. Nos anos 80 do século passado, permitiu a destruição do belo casarão que, na Praça da Liberdade, abrigara, no final do século XIX, a redação d'O Povo, primeiro jornal republicano do Estado. E agora, para completar, está reformando de maneira absurda o Mercado Público, inaugurado em 1918, desfigurando quase por completo a sua tradicional fachada. Assim como está desfigurando a Praça Dr. José Augusto, que de praça não tem mais nada. Em nome de um discutível "progresso", já há vários espigões que enfeiam a nossa Queicuó. Será que, mais cedo ou mais tarde, o poder público ousará destruir a Praça da Matriz? Ou o coreto da Praça da Liberdade?
Pobre Caicó! E pobre da cidade que não preza (e não conhece) sua própria história. É o caso de se perguntar: cadê a "caicocidade" de sua gente?
Comentários