As mortes e a morte de Dona Raimunda
Durante a minha recente viagem de férias, numa das vezes em que liguei para o meu povo em Caicó, soube de uma notícia triste: da morte de Dona Raimunda, uma pessoa que por muito tempo foi um apoio importante na minha vida, tendo me ajudado a cuidar de meu filho mais novo, Cauê. Há uma faceta sua que me chamava a atenção: costumava ficar atenta ao rádio enquanto trabalhava, atenta às notícias de morte de alguém na cidade. O objetivo era, principalmente, saber quando e onde aconteceria o velório para que ela fosse lá visitar o defunto. Não precisava que fosse alguém conhecido. Tratava-se de uma curiosa mescla de solidariedade com os mortos e sua família, com um irreprimível pulsar de proximidade com a morte. Proximidade esta que ocorreu ainda quando jovem, por ocasião de uma de suas idas às festas que aconteciam na antiga Palhoça (hoje sede do Atlético Clube Corintians). Lá ela passou a noite inteira dançando com um indivíduo conhecido à época como Chico Timbaúba. Este homem, após sair da festa, reuniu um grupo de amigos e se dirigiu à casa de um jovem carteiro da cidade e, por razões que não mais me lembro (caso alguém lembre por favor me dê informações), o assassinou e à sua jovem esposa a facadas...A cidade amanheceu estupefata com aquela violência toda...as paredes da casa do casal encontravam-se todas manchadas de sangue...ninguém havia ouvido nada...uma chacina que chocou toda a Caicó daquela época. Agora, Raimunda teve o seu encontro pessoal com a morte. E dessa vez será recebida por todos aqueles cujos enterros e velórios ela cuidadosamente prestigiou.
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