Mensagem aberta ao maestro André e à Filarmônica da UFRN
Boa noite meu querido Maestro e músicos da Filarmônica da UFRN. Recebi e compartilhei a postagem maravilhosa da Filarmônica ("Delírios da Pandemia - The Fool on The Hill).
Pela primeira vez, nesse período da pandemia, me emocionei até os olhos vomitarem lágrimas. Um misto de tristeza e alegria. De resignação e esperança. De deleite e lamúria.
Tristeza de quem não pode assistir ao vivo algo tão bonito, tão forte, tão intenso (inclusive a abertura com a leitura do poema do Tiago Xavier, pelo Cesar Ferrario e a presença radiante do Mad Dogs)
Indignação de ser obrigado a ficar em casa vendo tanta coisa linda em condições que limitam a troca de energia sempre tão fundamental entre o artista que toca e a platéia que assiste e que é cortada pela tela do computador ou do celular.
A resignação por estarmos nessa condição dói, incomoda e traz outra indignação, mais política, de como (ou até quando) deixa(re)mos que essa forma capitalista e desumana de nos relacionarmos com a natureza nos fez chegar a esse ponto em que os músicos ficam tocando enclausurados para plateias igualmente aprisionadas...Não dá para aceitar isso sem questionar que poderíamos (nós, essa humanidade genérica) impedir que a situação chegasse a esse limite.
As opções políticas, culturais, ambientais, assumidas majoritariamente pela humanidade, todas juntas e misturadas, concorreram para isso. E um dia algum gênio da música fará uma sinfonia sobre essas opções e as suas consequências. Mas será preciso, também, que como sujeitos políticos possamos lutar contra elas e podemos fazer da música uma aliada a isso. Nunca acreditei que a arte fosse uma expressão humana asséptica, que não toma posição sobre o mundo. E nunca acreditei em artistas que assim (se) pensam. Assim, eles perdem um pouco de sua humanidade.
Mas há alegria e esperança. Alegria em saber de que alguns de nós resistem e não se contentam com essa prisão. E que se propõem preencher esses encarceramentos com uma das mais belas linguagens artísticas.
A esperança está, também, aí, onde vemos tanta gente tentando driblar esses cárceres e participar, cada um do seu modo, dessa tentativa de romper o silêncio e a quietude desse cárcere imposto, reafirmando o que Frei Betto diz em um texto recente, de que a imaginação do preso é mais fértil que a do carcereiro. Forte abraço e muito obrigado pelo presente.
Para quem ainda não assistiu a performance da Filarmônica da UFRN, ver o link: https://www.youtube.com/watch?v=i2EwgXoT8b8
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