De minha mãe e outras mães
Quando Agenor viu esta princesa e este sorriso, deve, com razão, ter ficado abestalhado. Rendeu-se e rastejou (como todo homem apaixonado faz) por ela. E quis ter filhos com ela. Quando eu nasci, ele comemorou num bar. Diz uma lenda familiar que retirou meu nome de uma garrafa de vodca onde aparecia num canto o nome de um tal de Aleksandrovich. Como o cheiro de ditadura já estava no ar (estamos falando de 1967), o jovem pai, mesmo um tanto bêbado, viu que não seria prudente pôr nome russo no filho, então resolveu abreviar aquele nome para Alessandro (mais italiano). E assim foi. Junto com o nome deve ter vindo uma alma bolchevique, porque 15 anos depois aquele seu filho já andava metido com comunistas, para desespero de Seu Agenor, para quem Castelo Branco - o primeiro general presidente após 1964 - teria sido o maior presidente que o país tinha tido. Pois é...não se tem controle sobre as voltas que o mundo dá, que caminhos os filhos trilham, menos ainda em por quantos bares uma garrafa de vodca passará antes de seu conteúdo ser totalmente despejado goelas adentro.
Essa mulher hoje está com seus 75 anos e continua me tratando como se eu tivesse 7 ou 5 anos, o que por vezes traz conflitos e por vezes cenas épicas de amorosidade. Ainda bem que minha convivência com outras mulheres, especialmente as que foram ou são mães me fez entender que dentro dessa postura tem, além do amor que une pessoas, um supremo senso de cuidado que a cultura ocidental tornou uma "natureza" das fêmeas que nascem sob esse sistema.
Mas, a condição de pai e de avô também me ensinou que sentimos o mesmo que elas, com uma diferença importante: não passamos 9 meses carregando aquelas criaturas dentro de nós, por isso não fazemos a menor ideia do que significa e da emoção que é ver/conviver/estar com aquele ser ali (do lado de fora de nós), com vida própria, resultado de nossa capacidade fisiológico-criadora que as torna mais próximas da principal qualidade do Deus cristão do que qualquer um de nós. Sentimos quase o mesmo que elas, mas a diferença do nosso papel na trama biológica da reprodução nos deixa "menores", apesar da cultura ocidental nos ensinar que elas é que são "frágeis".
Minha mãe tem muito pouco de frágil, por tudo o que já viveu. A história da vida dela daria um belo livro. E ao falar de Dona Mariquinha, não tem como não pensar nas outras mães que conheço e das quais sou bem próximo: Sandra, Mariza, Dona Marlene, Mariana, Dona Naza, cujas histórias e amorosidade com seus rebentos nos diz o quanto a humanidade pode não precisar de heróis, mas de mães, eu não tenho a menor dúvida. E são tantas, de variadas cores e nomes espalhadas por aí, especialmente as negras, as pobres, as excluídas pelos preconceitos, torturadas e assassinadas pelas suas opções políticas ou porque, simplesmente, são mulheres. Deve ser por isso que na cosmogonia africana (que a mesma cultura ocidental demoniza), temos tantos belos orixás femininos como Nanã, Iemanjá, Oyá e Oxum, energias fundamentais para o equilíbrio do mundo.
Tudo isso me veio neste dia das mães, o tipo de data que por mais que você seja não Cristão e socialista libertário, é envolvido pelo clima típico dessas datas que o mercado e o cristianismo inventaram e transformam em opressão simbólica, obrigando a todos e todas se moldarem a elas, independentemente de suas emoções mais verdadeiras e íntimas.
Rendendo-me, portanto, edipianamente, a esse clima, deixo aqui minha homenagem à minha mãe e a todas que conheço, com o embabacamento típico dos frágeis e apaixonados homens que, seja na condição de filho ou amante, se perdem (e às vezes não se reencontram) em seus úteros amorosos.
Essa mulher hoje está com seus 75 anos e continua me tratando como se eu tivesse 7 ou 5 anos, o que por vezes traz conflitos e por vezes cenas épicas de amorosidade. Ainda bem que minha convivência com outras mulheres, especialmente as que foram ou são mães me fez entender que dentro dessa postura tem, além do amor que une pessoas, um supremo senso de cuidado que a cultura ocidental tornou uma "natureza" das fêmeas que nascem sob esse sistema.
Mas, a condição de pai e de avô também me ensinou que sentimos o mesmo que elas, com uma diferença importante: não passamos 9 meses carregando aquelas criaturas dentro de nós, por isso não fazemos a menor ideia do que significa e da emoção que é ver/conviver/estar com aquele ser ali (do lado de fora de nós), com vida própria, resultado de nossa capacidade fisiológico-criadora que as torna mais próximas da principal qualidade do Deus cristão do que qualquer um de nós. Sentimos quase o mesmo que elas, mas a diferença do nosso papel na trama biológica da reprodução nos deixa "menores", apesar da cultura ocidental nos ensinar que elas é que são "frágeis".
Minha mãe tem muito pouco de frágil, por tudo o que já viveu. A história da vida dela daria um belo livro. E ao falar de Dona Mariquinha, não tem como não pensar nas outras mães que conheço e das quais sou bem próximo: Sandra, Mariza, Dona Marlene, Mariana, Dona Naza, cujas histórias e amorosidade com seus rebentos nos diz o quanto a humanidade pode não precisar de heróis, mas de mães, eu não tenho a menor dúvida. E são tantas, de variadas cores e nomes espalhadas por aí, especialmente as negras, as pobres, as excluídas pelos preconceitos, torturadas e assassinadas pelas suas opções políticas ou porque, simplesmente, são mulheres. Deve ser por isso que na cosmogonia africana (que a mesma cultura ocidental demoniza), temos tantos belos orixás femininos como Nanã, Iemanjá, Oyá e Oxum, energias fundamentais para o equilíbrio do mundo.
Tudo isso me veio neste dia das mães, o tipo de data que por mais que você seja não Cristão e socialista libertário, é envolvido pelo clima típico dessas datas que o mercado e o cristianismo inventaram e transformam em opressão simbólica, obrigando a todos e todas se moldarem a elas, independentemente de suas emoções mais verdadeiras e íntimas.
Rendendo-me, portanto, edipianamente, a esse clima, deixo aqui minha homenagem à minha mãe e a todas que conheço, com o embabacamento típico dos frágeis e apaixonados homens que, seja na condição de filho ou amante, se perdem (e às vezes não se reencontram) em seus úteros amorosos.
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