A morte de Chagas, mito do futebol de Caicó

Transcrevo aqui palavras do meu querido Ailton Medeiros segundo o qual o "Negro Chagas" foi o melhor jogador do mundo que não viu jogar. O pai de Ailton - que o viu em campo desfilando com a camisa 10 do Caicó Esporte Clube - dizia que Chagas era uma lenda: meia-esquerda, driblava como Pelé, chutava com os dois pés, era ótimo assistente e um exímio cobrador de falta. Escreveu belos gols e desenhou jogadas memoráveis pelos campos empoeirados de Caicó, deixando bestificados os amantes do esporte bretão naquela cidade.
O velho pai de Ailton contava extasiado que ele havia inventado a "folha seca" antes de Didi, um dos maiores da história do futebol brasileiro e mundial. Algo que apenas me confirma que ao contrário de quem tem seus olhos históricos aprisionados nas narrativas das metrópoles e dos vencedores, feitos geniais e os gênios que os protagonizam podem muitas vezes nascerem simultaneamente em lugares distintos e improváveis, apenas que àqueles a quem o destino reservou a condição de protagonizarem seus feitos nas "periferias" do mundo, também se reservou a consequência de serem ignorados pelo resto do "mundo".
Seu Agenor, meu pai, torcedor do mesmo Caicó Esporte Clube, não apenas me confirmava o que o pai de Ailton proclamava, mas lembro de ele me contando que Chagas, de tão excelente, chegou a ser convidado para jogar em outro rubro-negro, o Sport Clube de Recife. Pegou o ônibus - pago pelos dirigentes do clube pernambucano - e se mandou para a capital pernambucana. Chegando lá, não ficou mais que uma semana e voltou, pelo que contava meu pai, assustado com o ritmo e o tamanho da metrópole que Recife já era...diante de tudo aquilo, Chagas preferiu a pequenez e a tranquilidade de sua Caicó...uma história digna do filme "Boleiros".
Ailton informa que Negro Chagas morreu ontem em Caicó, beirando os 80 anos e assinala que o cineasta John Ford dizia que quando a lenda é melhor que a realidade, publique-se a lenda. Compartilho aqui a homenagem de Ailton em respeito a memória do pai dele e do meu, divulgando a lenda e algumas fotos do mito, do acervo do meu tio Armando.

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