Pequena autobriografia belchioriana
Um dia, pensei que preferia e precisaria andar sozinho. E disse para deixarem eu decidir a minha vida. Já não precisava que me dissessem de que lado nascia o sol, lá batia o meu coração. Na cidade do sol.
Havia uma tristeza no ar. Mas eu era ainda muito moço pra tanta tristeza. Deixei coisas. Cuidei da vida, antes que chegasse a morte ou coisa parecida, chegasse e me arrastasse moço sem ter visto a vida.
Ao chegar em Natal não era muito mais que apenas um rapaz latinoamericano, sem dinheiro no banco, sem parentes importantes e vindo do interior. Resolvi ficar na cidade e não voltar pro sertão, pois via vindo no vento o cheiro de novas estações para mim e para o mundo. Buscava a paixão fundamental, edípica e vulgar, de inventar meu próprio ser.
Algumas vidas entraram em mim como um sol no quintal, houve amores profundos, transas casuais. Gozei em céus e infernos. Fiz canções corretas, brancas, suaves, muito limpas e leves, mas também vocalizei sons, palavras como navalhas, porque era impossível cantar sem querer ferir ninguém. Aliás, ninguém canta sem que, em alguma medida, em algum lugar, fira alguém.
Entendi há anos atrás que uma nova mudança em breve iria acontecer, e o que há algum tempo era novo, jovem, estava se tornando antigo, e precisávamos todos rejuvenescer. No decorrer dos últimos anos, percebi, com dor, que apesar de termos feito tudo, tudo o que fizemos, rejuvenescer é preciso para que - como alguns que estavam ao nosso lado em tempos idos - não sejamos os mesmos nem vivamos como os nossos pais. Por essas dores eu descobri o poder da alegria e a certeza de que tenho coisas novas pra dizer.
Ainda há medos? Claro. Tenho medo de abrir a porta que dá pro sertão da minha solidão, apertar o botão: cidade morta, placa torta indicando a contramão, faca de ponta e meu punhal que corta e o fantasma escondido no porão.
Por vezes, estou mais angustiado que um goleiro na hora do gol, por outras, tenho como alucinação suportar o dia-a-dia e como delírio a experiência com coisas reais. Vejo e me comovo com um preto, um pobre, um estudante, uma mulher sozinha, os humilhados do parque com os seus jornais e me entristeço com a solidão das pessoas dessas capitais.
Mas, presentemente eu posso me considerar um sujeito de sorte, porque apesar de muito moço (só que não...rs) me sinto são, salvo e forte. E assim já não posso sofrer no ano passado. Tenho sangrado demais, tenho chorado pra cachorro e ano passado eu morri mas esse ano eu não morro. Afinal, chegarei aos 50 e o que gosto mesmo é de amar e mudar as coisas. Isso me interessa mais.
Havia uma tristeza no ar. Mas eu era ainda muito moço pra tanta tristeza. Deixei coisas. Cuidei da vida, antes que chegasse a morte ou coisa parecida, chegasse e me arrastasse moço sem ter visto a vida.
Ao chegar em Natal não era muito mais que apenas um rapaz latinoamericano, sem dinheiro no banco, sem parentes importantes e vindo do interior. Resolvi ficar na cidade e não voltar pro sertão, pois via vindo no vento o cheiro de novas estações para mim e para o mundo. Buscava a paixão fundamental, edípica e vulgar, de inventar meu próprio ser.
Algumas vidas entraram em mim como um sol no quintal, houve amores profundos, transas casuais. Gozei em céus e infernos. Fiz canções corretas, brancas, suaves, muito limpas e leves, mas também vocalizei sons, palavras como navalhas, porque era impossível cantar sem querer ferir ninguém. Aliás, ninguém canta sem que, em alguma medida, em algum lugar, fira alguém.
Entendi há anos atrás que uma nova mudança em breve iria acontecer, e o que há algum tempo era novo, jovem, estava se tornando antigo, e precisávamos todos rejuvenescer. No decorrer dos últimos anos, percebi, com dor, que apesar de termos feito tudo, tudo o que fizemos, rejuvenescer é preciso para que - como alguns que estavam ao nosso lado em tempos idos - não sejamos os mesmos nem vivamos como os nossos pais. Por essas dores eu descobri o poder da alegria e a certeza de que tenho coisas novas pra dizer.
Ainda há medos? Claro. Tenho medo de abrir a porta que dá pro sertão da minha solidão, apertar o botão: cidade morta, placa torta indicando a contramão, faca de ponta e meu punhal que corta e o fantasma escondido no porão.
Por vezes, estou mais angustiado que um goleiro na hora do gol, por outras, tenho como alucinação suportar o dia-a-dia e como delírio a experiência com coisas reais. Vejo e me comovo com um preto, um pobre, um estudante, uma mulher sozinha, os humilhados do parque com os seus jornais e me entristeço com a solidão das pessoas dessas capitais.
Mas, presentemente eu posso me considerar um sujeito de sorte, porque apesar de muito moço (só que não...rs) me sinto são, salvo e forte. E assim já não posso sofrer no ano passado. Tenho sangrado demais, tenho chorado pra cachorro e ano passado eu morri mas esse ano eu não morro. Afinal, chegarei aos 50 e o que gosto mesmo é de amar e mudar as coisas. Isso me interessa mais.
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