Os sentidos dos vazamentos

Todo mundo se perguntando o porque dos grandes meios de comunicação terem vazado as gravações envolvendo o Senador e Ex-Ministro do Planejamento Romero Jucá – PMDB, afinal, se o objetivo do golpe era “apenas” apear o PT do Governo, não teria muita lógica em tão pouco tempo as baterias da imprensa golpista se voltar contra o bloco governista em torno do PMDB, ainda mais 24 horas antes da divulgação do pacote econômico que indicará os caminhos tomados por este governo. A lógica seria escondê-lo, liberá-lo posteriormente ou tratá-lo como algo “menor”, ainda mais considerando que as gravações foram obtidas de forma clandestina, sem qualquer amparo jurídico e vazadas para a Folha de São Paulo, baluarte dos golpistas.
Um olhar mais imediato, ao calor da situação, poderá enveredar por conceber esse vazamento como sendo “apenas” a manifestação das contradições e disputas internas ao bloco formado em torno do PMDB, mas revela que há um “conteúdo” sendo assumido por parte da mídia golpista e colocado como elemento de pressão sobre os agentes políticos (leia-se os partidos e as suas respectivas lideranças) que protagonizaram o golpe.
Esse conteúdo é a narrativa antipolítica que foi construída identificando o PT como o “único” partido corrupto da seara política nacional, mas que só alcançou maior enraizamento social quando agregou aqueles para quem a corrupção é um fenômeno que paira para além do PT. Com ele, a imprensa golpista se coloca como o instrumento de pressão necessária e de controle absoluto dos passos do governo Temer. Está avisando-o: ficará no governo quem nós quisermos, aplicando o programa que nós quisermos. Chantagem entre mafiosos.
O movimento da imprensa direciona-se em dois sentidos e eles são coerentes com a matriz que as cria: o primeiro, o de implementar um projeto neoliberal clássico, de redução absoluta da presença reguladora ou efetiva ou do Estado em setores econômicos e sociais; redução de direitos trabalhistas ou entrega dos marcos reguladores para a seara da “livre” negociação; estrangulamento do financiamento público à educação e saúde; e progressivo fim dos programas sociais e outros mecanismos de ação afirmativa.
O segundo movimento pretende soldar politicamente os segmentos mais odiosos da direita (aqueles que hoje se representam em Bolsonaro, por exemplo) com o discurso “antipolítica” dos segmentos sociais que mesmo não se identificando com as propostas claramente antidemocráticas da direita a ela se agregou sob a bandeira “anticorrupção”. Alargam, assim, a base social da direita não com vistas a dar uma sustentação ao Governo Temer, mas a controla-lo a partir de uma narrativa que tomará contornos de um projeto mais estruturado e que, não me surpreendo, tomará forma de um novo partido político.
Essa operação conta, além da grande mídia golpista, com dois instrumentos fortes e intocados/áveis: os ministros da alta corte judiciária e a própria Lava Jato, as quais serão conduzidas no sentido de se produzir (“novas”) lideranças que representem a negação do grupo que atualmente ocupa o governo (que têm, nessa perspectiva, laços de continuidade com o governo do PT), com vistas aos próximos processos eleitorais, especialmente 2018. Temos, então, uma trindade: judiciário, polícia federal e imprensa amalgamados em torno de um projeto que ainda não tem uma face política clara para 2018, mas que está sendo gestado e poderá, ou não, sair de dentro do próprio Governo Temer.
Mas, por enquanto, o Governo Temer representa para esses segmentos um governo de transição (alguns já o denominam assim mesmo). Algo com que se têm conviver, enquanto gestam uma alternativa (ainda indefinida no atual momento) viável eleitoralmente e capaz de sintetizar o programa que já estará sendo implementado.

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