Um conto para Peri: "O Castelo, o marinheiro e o pequeno príncipe guerreiro"


Era uma vez um jovem marinheiro. 
Sua paixão pelo mar e pela aventura eram maiores que o próprio oceano. 
Sua maior alegria era viajar, conhecer novos lugares, pessoas, animais e plantas. 
Assim, costumava ficar pouco tempo em cada país, em cada cidade ou comunidade onde ancorava.
E para levar consigo as lembranças de cada uma de suas passagens por cada lugar, sempre carregava consigo potes onde guardava um pouco de terra com uma planta nativa de cada chão em que pisava.
E em cada pote, uma plaqueta indicava a origem daquele monte de terra e da plantinha.
Seu barco, assim, ficava apinhado com os potes cheios de terra e plantas que iam crescendo. O barco, com o tempo, mais parecia um jardim flutuante, em pleno mar. Sempre visitado por pássaros, insetos e micos.
Em uma de suas viagens, o jovem marinheiro encontrou-se com uma linda princesa. Ela, também, adorava viajar e naquele momento estava fazendo sua primeira grande viagem para conhecer outros lugares. 
Os dois encontraram-se num país onde os pássaros, uma vez por ano, se reuniam ao amanhecer para anunciar o nascer do sol com uma música preparada por eles especialmente para aquele momento. Cada espécie, com seu jeito de cantar se harmonizava com os demais. Quando acabava a cantoria voavam de volta, cada grupo de pássaros, para seu lugar de origem, enquanto o eco de seus cantares pintavam as árvores de várias cores.
E foi assim que o jovem marinheiro e a princesa se conheceram. 
Por acaso. 
Ainda estavam com restos das tintas deixadas pelos pássaros em suas roupas. 
Encantaram-se um pelo outro e resolveram ficar juntos. 
Mas a princesa teria que voltar ao seu país e o marinheiro aceitou acompanhá-la e viver com ela uma nova vida. No novo país, o marinheiro conheceu os pais de sua amada princesa e por muitos anos viveram felizes. 
E tiveram um filho. Uma linda criança cujos cabelos mudavam de cor e de tamanho sem que ninguém soubesse por quê nem quando.

Seu filho ainda era pequenininho, nem sabia falar, quando, uma noite, o marinheiro acordou assustado, febril, e disse para sua princesa que precisava partir de volta ao seu país. Havia sonhado que ele encontrava-se seco e sem vida por causa de um dragão que havia devastado tudo o que existia por lá. E ele partiu, deixando a princesa chorando de tristeza com o filho deles em seus braços.

Nessa nova viagem, em meio a uma inesperada tempestade, o marinheiro perdeu-se e ficou navegando ao léu sem conseguir encontrar seu país. Por vezes, cruzava com outros navios e os seus amigos, outros marinheiros, lhes davam notícias de que o seu país havia desaparecido. Cada vez mais se sentia perdido e angustiado. Não sabia o que fazer. E já não sabia como retornar aonde havia deixado sua princesa e seu filho.
Cansado, o marinheiro parou de navegar. Deixou que os ventos levassem seu barco para onde bem entendessem. Um dia acordou em um mar desconhecido. Seu barco havia atracado em uma ponta de terra ignorada. Uma terra seca, sem água e sem vida. Uma tristeza. Nenhum cantar de pássaros. Nenhum sussurro de insetos. Nenhum uivo de outros animais. Ao longe avistou um castelo. Desceu de seu barco, aproximou-se e notou que ele estava aberto e sem proteção alguma. Entrou e passou dias visitando cada pedaço do castelo. Visitou cada torre. Descobriu que em cada canto dele havia um pedaço de um país desaparecido ao longo do tempo. Em cada parede de cada torre palavras e frases escritas em línguas estranhas por pessoas que certamente tinham vindo daqueles países desaparecidos.
O castelo era enorme, e de tanto entrar e sair de seus túneis e labirintos o marinheiro viu-se, mais uma vez perdido. Demorara tanto tempo dentro do castelo que seus amigos pensaram que ele estava morto e não o procuravam mais.



Ele estava só e sem saber sair de dentro do castelo. Quando chegava em alguma janela de uma das torres tentava gritar pedindo ajuda, mas ninguém lhe ouvia. E o pior: numa dessas vezes em que se pôs à janela, teve uma grande e horrível surpresa: viu que um dragão enorme rondava o castelo. E então descobriu porque que aquele lugar era tão triste, seco e sem vida. O fogo liberado por aquele dragão, todos os dias, havia matado todas as árvores, secado rios e lagos e deixado a terra seca. Todos os moradores haviam fugido dali, deixando apenas o castelo em pé.
Um dia, enquanto buscava com seus olhos encontrar alguém fora do castelo que o ouvisse ou pudesse vê-lo, viu pousar sobre os muros do castelo um mico e um galo de campina. Mesmo sem esperanças de que lhes dessem ouvido, o marinheiro contou toda a sua história e terminou pedindo que se um dia o mico ou o galo de campina pudessem dar notícias suas à sua família distante que o fizessem.

Mal havia acabado de fazer o tal pedido os dois bichos saíram em disparada. O dragão que por ali rondava, viu todo aquele movimento e se voltou para atacá-los. Enquanto o mico saltava de um lado para o outro distraindo o dragão, o galo de campina saía voando à procura da família do jovem marinheiro. 
Vendo que o galo de campina conseguiu partir sem ser atingido pelas rajadas de fogo do dragão, o mico também fugiu e desapareceu.
Durante sua viagem o pássaro encontrou-se com outros amigos que lhes ensinaram como chegar no país onde vivia a princesa e o jovem filho do marinheiro.

Ao chegar, o pássaro reuniu-se com a família do marinheiro.
Ali mesmo, cantou uma música em que narrava toda a história do marinheiro, onde ele estava e os perigos que corria.
O jovem príncipe, filho do marinheiro, que havia crescido sem saber quem era o próprio pai decidiu ir até o castelo enfrentar o dragão e salvar o seu pai daquela situação. Confiava na espada que tinha e na sua capacidade de fazer os seus cabelos crescerem e diminuírem e mudarem de cor.

Foram dias navegando, ouvindo histórias e conhecendo novos lugares até desembarcar naquele país estranho, seco e sem ninguém.

O calor era intenso e ao longe já dava para avistar as torres do castelo onde seu pai se encontrava.

Alguns metros mais adiante o jovem príncipe já sentia o cheiro da fumaça que o dragão liberava de suas narinas. E o encontrou deitado, vigiando a entrada do castelo.

Para poder entrar no castelo sem ser percebido, o jovem príncipe fez o próprio cabelo crescer de modo a encobri-lo totalmente. Deixou-o da cor da terra e assim, praticamente invisível, cruzou a entrada do castelo à procura do seu pai. Não podia chamá-lo gritando para não chamar a atenção do dragão. Então teve que entrar nos labirintos. Para não se perder, lembrou-se de uma história contada pela sua mãe, segundo a qual um herói de um país distante havia entrado em um labirinto igual àquele segurando um barbante que o faria voltar ao lugar por onde havia entrado. E assim ele foi.

Depois de dias e noites dentro do castelo, ele finalmente encontrou seu pai, já barbudo e de cabelos muito brancos. Cansado e com muita sede.

O jovem príncipe se apresentou - “sou seu filho, pai!” – e o fez levantar-se. O marinheiro não acreditava. Estava ao mesmo tempo feliz mas preocupado com o dragão que vivia do lado de fora do castelo e poderia matar a ele e a seu filho amado que o havia reencontrado.

O seu filho o pegou pela mão e fizeram todo o trajeto de volta dentro do castelo, seguindo o barbante.

Ao chegarem na porta do castelo, foi impossível impedir o dragão de vê-los ali. E começou, então, uma brutal luta em que o filho do marinheiro tentava escapar das cuspidas e rajadas de fogo do dragão ao mesmo tempo que buscava atingi-lo com sua espada.

Num desses momentos, o marinheiro se colocou à frente do dragão fazendo-o se distrair por um momento e esquecer da luta com seu jovem filho. Nesse momento, o príncipe, com os cabelos em cor de fogo correu em direção ao dragão e atirou contra ele sua espada que atravessou seu braço e o fez cair no chão lentamente, sentindo dores horríveis.

O dragão, com aquela dor insuportável, chorava muito e as lágrimas que saíram de seus olhos começaram a penetrar no chão. Logo começaram a brotar novas árvores. O dragão foi diminuindo de tamanho. E quanto mais ele diminuía, mais árvores nasciam. Logo, de suas lágrimas foi se formando um lago próximo do castelo.

O dragão ficou bem pequenininho e passou a viver dentro de um buraco de uma rocha, próximo do castelo, sem fazer mal a ninguém.

As pessoas retornaram a viver ao redor do castelo e a cuidar dele.

O velho marinheiro retornou ao seu país com seu filho, se reencontrou com sua princesa e viveram o resto dos seus dias em alegria por estarem juntos novamente.

Bem, meu  amor, esse castelo existe e o vovô visitou-o recentemente...quando quiser conhecê-lo é só dizer, iremos juntos! Beijos.

Comentários

Unknown disse…
Escreva um livro infantil!
O titulo? Histórias para Peri!!.
Abraços grandes vovô querido !!
Unknown disse…
Então, temos que continuar novas histórias com Peri em castelos. Me lembrei que fui a um castelo com ele em Garanhuns, será que consigo??? Inspirado na sua vou tentar. Linda história vovô Sandro. Vc e um lindo contador de histórias para Peri. Feliz por meu neto ter um vô tão talentoso. Bjus com tintas de pássaros melodiosos.
Unknown disse…
Belo, carinhoso e amoroso conto. Devo chamar conto vivido. Vivido pelo olhar desse avô poeta.
Mariana Guedes disse…
e!!! Para quantos castelos ele ainda irá com você ....
Esse é só o começo.
Abs Eliane ( vó)
Unknown disse…
Adorei o conto. Um verdadeiro conto para crianças que ainda encontram-se no trânsito entre a fantasia e o mundo real. Parabéns.
Unknown disse…
O vovô era o pai que estava perdido ou é o filho que o encontrou?

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