O analfabetismo detectado pelo PNAD 2012
Olá pessoal,
Reproduzo abaixo, os atalhos para duas matérias publicadas no UOL Educação, sobre a divulgação dos resultados do PNAD 2012, pelo IBGE, que aponta um leve aumento do índice de analfabetismo entre adultos no Brasil e que mereceu destaque no noticiário da imprensa em todo o país. Mas, não há o que se assustar diante desses indicadores. Os esforços em viabilizar uma melhoria das taxas de escolarização entre jovens e adultos não alfabetizados ou que estão "fora de faixa" (como se diz no jargão pedagógico) ainda são pontuais, desarticulados e com baixa intensidade frente aos desafios que se têm.
As dificuldades abrangem um espectro amplo de questões e seu enfrentamento requer uma visão igualmente ampliada, tanto em termos de quantidade e qualidade das ações, como de seus protagonistas.
O analfabetismo entre jovens e adultos no Brasil pode ser dimensionado a partir da observação de alguns processos decisivos: um, de natureza social, decorrente de décadas de negação dos direitos à escola para parte significativa de nossa população, vemos um contingente de sujeitos ingressando na idade adulta sem estímulo ou necessidade de se escolarizar. São sujeitos que entraram na roda viva do mundo do trabalho precocemente, numa época em que não existiam vagas ou escolas para todos os que o procurassem; ou que, mesmo existindo, precisavam dedicar-se à sobrevivência própria ou da família como um imperativo.
Um outro processo se engendra dentro da própria escola e propicia o surgimento de um grupo que, não obstante ter entrado na escola na época tida como "certa", "própria" ou "adequada", não conseguiu se enquadrar nos tempos, rotinas e cultura escolar, acumulando reprovações e abandonos até serem "deportados" do chamado ensino regular para a modalidade EJA. Aí encontramos um contingente expressivo de jovens, normalmente tidos como "problemáticos", segundo a avaliação das equipes pedagógicas.
O espaço oferecido pelo sistema de ensino brasileiro é a modalidade EJA (Educação de Jovens e Adultos) da Educação Básica, mas, estar na EJA é assumida por boa parte desses sujeitos como uma espécie de "castigo" ou um "purgatório", dado que muito daquilo que se espera do ensino regular, na EJA, é tratado como de "segunda categoria" (há escolas, por exemplo, em que o laboratório de informática funciona nos horários matutino e vespertino, mas não funciona à noite, quando as turmas são preponderantemente de EJA).
A cultura da EJA como "escola de segunda classe" se dissemina entre professores, alunos e gestores, restando pouco espaço político e pedagógico para se (re)pensar formatos, tempos e processos. E quando isso se faz, ainda é perceptível que se coloca como espelho os formatos, tempos e processos tidos como "padrão", do ensino regular.
No mais, dentro dos limites deste blog podemos enumerar as seguintes questões que precisam ser tratadas no tocante à questão do analfabetismo no Brasil e, especificamente, aqui no RN (onde o anúncio do PNAD 2012 indica um percentual de analfabetismo de 16% entre pessoas acima de 15 anos):
a) o Governo brasileiro, em que pese ter ampliado significativamente o alcance do seu programa de alfabetização de adultos (o Brasil Alfabetizado), não tem buscado realizar uma ampla e participativa avaliação dessa experiência, passados 10 anos de sua implementação;
b) Ainda se pensa a alfabetização como um processo restrito à aquisição do código alfabético, sem que se agregue iniciativas de promoção do uso social da leitura e da escrita, capazes de diminuir os "recuos" de aprendizagem, já que é notório que após a apropriação do "básico" da alfabetização, é preciso manter uma dinâmica de continuidade do aprendizado;
c) Não se tem uma política de Educação de Jovens e Adultos que efetivamente acolha todos os sujeitos que, uma vez alfabetizados, queiram dar continuidade à sua escolarização;
d) Não há políticas de promoção da escolarização entre trabalhadores, nem de mobilização comunitária para esse fim;
e) Em se considerando que a maioria dos estudantes que demandam a EJA são trabalhadores ou pessoas que almejam inserir-se no mundo do trabalho, não se tem diretrizes pedagógicas que claramente busquem estabelecer um diálogo com essa dimensão da realidade dos estudantes, funcionalizando o currículo nesse sentido. E aqui nem se trata de transformar o currículo da EJA em "formador de mão-de-obra barata para o mercado de trabalho", mas encontrar que demandas (em termos de saberes e conhecimentos) se põe para os estudantes, os quais o currículo da EJA pode incorporar como centralidade. Acrescente-se aí, conhecimentos sobre associativismo e cooperativismo, como formas alternativas e dignas de imersão no mundo do trabalho.
f) No caso específico do RN há um vazio do tamanho da popularidade da atual governadora: além do Brasil Alfabetizado (programa federal), há apenas um projeto que deverá ser implementado sob o Programa RN Sustentável, com recursos do Banco Mundial, que é extremamente tímido e carregado de incongruências: pretende alfabetizar 12.500 trabalhadores rurais acima de 15 anos, ao longo de 5 anos (enquanto o número detectado pelo Censo do IBGE, em 2010, de analfabetos entre sujeitos rurais acima de 15 anos era de 340 mil!!!!), fazendo uma articulação (louvável) entre alfabetização e qualificação profissional. Mas, para isso, invés de se colocar à tarefa de reunir e mobilizar o apoio da massa de instituições universitárias locais (que poderiam construir coletivamente uma proposta metodológica que suprisse os desafios de uma proposta tão inovadora), o Governo do Estado deverá contratar empresas privadas para viabilizar esse processo.
g) Em referência às celebrações pelos 50 anos da experiência de alfabetização de adultos em Angicos (experiência emblemática pelo claro vínculo com as ideias paulofreireanas), a Secretaria de Educação do Estado lançou um "Pacto Paulo Freire de Alfabetização de Adultos", o qual ainda não saiu do papel, o que deve estar fazendo o próprio Paulo Freire se revirar no túmulo.
Bem...por enquanto é só isso que me vem à cabeça por enquanto. Quem quiser saber mais sobre o que circulou na imprensa semana passada sobre isso, acessar:
http://educacao.uol.com.br/noticias/2013/09/27/analfabetismo-volta-a-crescer-no-brasil-apos-mais-de-15-anos-de-queda.htm
http://educacao.uol.com.br/noticias/2013/09/27/combate-ao-analfabetismo-adulto-precisa-de-politica-publica-especifica.htm
Reproduzo abaixo, os atalhos para duas matérias publicadas no UOL Educação, sobre a divulgação dos resultados do PNAD 2012, pelo IBGE, que aponta um leve aumento do índice de analfabetismo entre adultos no Brasil e que mereceu destaque no noticiário da imprensa em todo o país. Mas, não há o que se assustar diante desses indicadores. Os esforços em viabilizar uma melhoria das taxas de escolarização entre jovens e adultos não alfabetizados ou que estão "fora de faixa" (como se diz no jargão pedagógico) ainda são pontuais, desarticulados e com baixa intensidade frente aos desafios que se têm.
As dificuldades abrangem um espectro amplo de questões e seu enfrentamento requer uma visão igualmente ampliada, tanto em termos de quantidade e qualidade das ações, como de seus protagonistas.
O analfabetismo entre jovens e adultos no Brasil pode ser dimensionado a partir da observação de alguns processos decisivos: um, de natureza social, decorrente de décadas de negação dos direitos à escola para parte significativa de nossa população, vemos um contingente de sujeitos ingressando na idade adulta sem estímulo ou necessidade de se escolarizar. São sujeitos que entraram na roda viva do mundo do trabalho precocemente, numa época em que não existiam vagas ou escolas para todos os que o procurassem; ou que, mesmo existindo, precisavam dedicar-se à sobrevivência própria ou da família como um imperativo.
Um outro processo se engendra dentro da própria escola e propicia o surgimento de um grupo que, não obstante ter entrado na escola na época tida como "certa", "própria" ou "adequada", não conseguiu se enquadrar nos tempos, rotinas e cultura escolar, acumulando reprovações e abandonos até serem "deportados" do chamado ensino regular para a modalidade EJA. Aí encontramos um contingente expressivo de jovens, normalmente tidos como "problemáticos", segundo a avaliação das equipes pedagógicas.
O espaço oferecido pelo sistema de ensino brasileiro é a modalidade EJA (Educação de Jovens e Adultos) da Educação Básica, mas, estar na EJA é assumida por boa parte desses sujeitos como uma espécie de "castigo" ou um "purgatório", dado que muito daquilo que se espera do ensino regular, na EJA, é tratado como de "segunda categoria" (há escolas, por exemplo, em que o laboratório de informática funciona nos horários matutino e vespertino, mas não funciona à noite, quando as turmas são preponderantemente de EJA).
A cultura da EJA como "escola de segunda classe" se dissemina entre professores, alunos e gestores, restando pouco espaço político e pedagógico para se (re)pensar formatos, tempos e processos. E quando isso se faz, ainda é perceptível que se coloca como espelho os formatos, tempos e processos tidos como "padrão", do ensino regular.
No mais, dentro dos limites deste blog podemos enumerar as seguintes questões que precisam ser tratadas no tocante à questão do analfabetismo no Brasil e, especificamente, aqui no RN (onde o anúncio do PNAD 2012 indica um percentual de analfabetismo de 16% entre pessoas acima de 15 anos):
a) o Governo brasileiro, em que pese ter ampliado significativamente o alcance do seu programa de alfabetização de adultos (o Brasil Alfabetizado), não tem buscado realizar uma ampla e participativa avaliação dessa experiência, passados 10 anos de sua implementação;
b) Ainda se pensa a alfabetização como um processo restrito à aquisição do código alfabético, sem que se agregue iniciativas de promoção do uso social da leitura e da escrita, capazes de diminuir os "recuos" de aprendizagem, já que é notório que após a apropriação do "básico" da alfabetização, é preciso manter uma dinâmica de continuidade do aprendizado;
c) Não se tem uma política de Educação de Jovens e Adultos que efetivamente acolha todos os sujeitos que, uma vez alfabetizados, queiram dar continuidade à sua escolarização;
d) Não há políticas de promoção da escolarização entre trabalhadores, nem de mobilização comunitária para esse fim;
e) Em se considerando que a maioria dos estudantes que demandam a EJA são trabalhadores ou pessoas que almejam inserir-se no mundo do trabalho, não se tem diretrizes pedagógicas que claramente busquem estabelecer um diálogo com essa dimensão da realidade dos estudantes, funcionalizando o currículo nesse sentido. E aqui nem se trata de transformar o currículo da EJA em "formador de mão-de-obra barata para o mercado de trabalho", mas encontrar que demandas (em termos de saberes e conhecimentos) se põe para os estudantes, os quais o currículo da EJA pode incorporar como centralidade. Acrescente-se aí, conhecimentos sobre associativismo e cooperativismo, como formas alternativas e dignas de imersão no mundo do trabalho.
f) No caso específico do RN há um vazio do tamanho da popularidade da atual governadora: além do Brasil Alfabetizado (programa federal), há apenas um projeto que deverá ser implementado sob o Programa RN Sustentável, com recursos do Banco Mundial, que é extremamente tímido e carregado de incongruências: pretende alfabetizar 12.500 trabalhadores rurais acima de 15 anos, ao longo de 5 anos (enquanto o número detectado pelo Censo do IBGE, em 2010, de analfabetos entre sujeitos rurais acima de 15 anos era de 340 mil!!!!), fazendo uma articulação (louvável) entre alfabetização e qualificação profissional. Mas, para isso, invés de se colocar à tarefa de reunir e mobilizar o apoio da massa de instituições universitárias locais (que poderiam construir coletivamente uma proposta metodológica que suprisse os desafios de uma proposta tão inovadora), o Governo do Estado deverá contratar empresas privadas para viabilizar esse processo.
g) Em referência às celebrações pelos 50 anos da experiência de alfabetização de adultos em Angicos (experiência emblemática pelo claro vínculo com as ideias paulofreireanas), a Secretaria de Educação do Estado lançou um "Pacto Paulo Freire de Alfabetização de Adultos", o qual ainda não saiu do papel, o que deve estar fazendo o próprio Paulo Freire se revirar no túmulo.
Bem...por enquanto é só isso que me vem à cabeça por enquanto. Quem quiser saber mais sobre o que circulou na imprensa semana passada sobre isso, acessar:
http://educacao.uol.com.br/noticias/2013/09/27/analfabetismo-volta-a-crescer-no-brasil-apos-mais-de-15-anos-de-queda.htm
http://educacao.uol.com.br/noticias/2013/09/27/combate-ao-analfabetismo-adulto-precisa-de-politica-publica-especifica.htm
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