Uma escola sem salas de aula, sem séries...para conhecer e refletir

Hoje li uma série de matérias sobre uma experiência que está sendo desenvolvida numa escola na Rocinha, no Rio de Janeiro...me entrego a pensar nas possibilidades dessas experiências pedagógicas sem preconceito. Penso que muita coisa que nos acontecerá "lá na frente" (quando, talvez, muitos de nós não estarão por aqui) está relacionada ou só se torna possível por causa de "loucuras" realizadas tempos antes.
Matéria extraída de: http://porvir.org/porfazer/rio-inaugura-escola-sem-salas-turmas-ou-series/20130125

"RIO INAUGURA ESCOLA SEM SALAS, TURMAS OU SÉRIES

O Rio de Janeiro começa, nas próximas semanas, a experimentar um novo tipo de escola. Nada de séries, salas de aula com carteiras enfileiradas e crianças ordenadamente caminhando pelo espaço comum. A aposta para dar a 180 crianças e jovens da Rocinha uma educação mais alinhada com o século 21 é o Gente, acrônimo para Ginásio Experimental de Novas Tecnologias, na escola Municipal André Urani. O espaço, que acaba de ser totalmente reformulado para comportar a nova proposta, perdeu paredes, lousas, mesas individuais e professores tradicionais e ganhou grandes salões, tablets, “famílias”, times e mentores.

Não houve pré-seleção. Os alunos que farão parte dessa nova metodologia já são os matriculados na escola antes da reforma. Mas agora as antigas séries serão extintas e não haverá mais as salas de aula tradicionais, com espaço para 30 e poucos alunos. Em vez disso, os jovens – que estariam entre o 7o e 9o anos – serão agrupados em equipes de seis membros, chamadas de “famílias”, independentemente de sua série de origem. A formação das famílias ocorrerá em parte por afinidade, a partir da escolha dos próprios membros, e em parte a pelo diagnóstico de habilidades ao qual os alunos se submeterão no início do ano letivo.

Essa avaliação, que ocorre assim que eles chegarem ao Gente, pretende fazer um raio-x do estado da aprendizagem de cada um, tanto do ponto de vista do conteúdo tradicional quanto das habilidades não cognitivas, como comunicação, senso crítico, autoria. Cada aluno terá um itinerário de aprendizado pessoal, que funciona como uma espécie de playlist, só que em vez de músicas, estarão os pontos que ele precisa aprender ou desenvolver. Será o jovem o responsável por escolher a forma como o conteúdo lhe será entregue – videoaulas, leituras, atividades individuais ou em grupo. Todas as semanas os alunos serão avaliados na Máquina de Testes, um programa inteligente que propõe questões de diferentes níveis de dificuldade, para garantir a evolução no conteúdo. Quando ele não chegar ao resultado esperado, o jovem receberá uma atenção individualizada.

Tal atenção é de responsabilidade do mentor da família, o professor. Cada mentor será responsável por três famílias, que reunidas serão chamadas de equipe. “O mentor deve dar uma educação mais ampla, preocupada não só com os conteúdos tradicionais, mas com higiene, com aspectos socioemocionais do aluno, com a motivação dele”, diz Rafael Parente, subsecretário de novas tecnologias educacionais da Secretaria Municipal de Educação do Rio, explicando a mudança no papel do professor naquele contexto. Em vez de dar aula de português ou matemática, o mentor vai ajudar o aluno a encontrar a informação de que precisa para entender o conteúdo, mesmo que o assunto não seja o da sua formação.

Assim, explica Parente, se um professor de língua portuguesa precisar explicar um assunto mais específico de matemática, ele deve pedir ajuda para membros da família, se sentar com o aluno para assistir à videoaula da Educopedia com ele, tentar aprender junto. “O professor não vai ser mais aquele que transmite o conhecimento. Ele vai ser especialista na arte de aprender”, diz o subsecretário. O grupo de mentores que fará parte do Gente foi treinado para essa nova forma de lecionar.

Todos os dias, ao chegarem à escola, os alunos passarão por um momento de acolhida, em que compartilharão com seus pares experiências e expectativas para o dia. A jornada na escola é integral. Neste tempo, com o auxílio de seu itinerário e a liderança do tutor, cada um deverá decidir o que e em que ordem estudar e poderá, à livre escolha, se juntar a grupos de estudo de língua estrangeira, robótica, esportes, artes, desenvolvimento de blogs. É nesse momento que uma pergunta inevitável aparece: mas se o aluno não quiser fazer nada, ele não vai fazer nada, certo? Mais ou menos. Os mentores, explica Parente, estarão sempre por perto para motivar os alunos a avançarem, as avaliações mostrarão quem está ficando para trás e os integrantes da família – o tal grupo de seis – também deve incentivar uns aos outros. “Quando o aluno é protagonista do próprio aprendizado, faz suas escolhas, ele se envolve mais, se empolga mais com a escola.”

A tecnologia é outro fator importante na forma como o projeto foi organizado. Para que os alunos possam escolher entre ambiente virtual ou presencial, era preciso que todos os alunos tivessem acesso a equipamentos e internet. Por isso, cada aluno terá o seu tablet ou netbook e, quando for pedagigocamente justificável, vai poder levá-lo para casa. Todas as dependências do André Urani terão internet sem fio de alta velocidade."

Comentários

Ana Pimenta disse…
Inicialmente, já gostei do nome GENTE (Ginásio Experimental de Novas Tecnologias)... Lembrei-me das ideias de José Pacheco da Escola da Ponte (Portugal), de Rubem Alves quando diz que a Escola da Ponta é “a escola com que sempre sonhei e não sabia que existia” (livro) e de Tião Rocha que sugere uma educação sem escola. Enfim, são belas e desafiadoras iniciativas em prol de uma educação verdadeiramente de qualidade... Parabéns aos idealizadores, ô povo inteligente!!! (rsrs)...

“Numa terra de fugitivos, aquele que anda na direção contrária parece estar fugindo.” T. S. Eliot

Desejo sucesso!!!
Maria Dias disse…
Realmente é uma realização fascinante, mas de difícil realização. Um trabalho numa perspectiva transdisciplinar, o qual é desenvolvido visando a aquisição de um conhecimento mais inteiro, sem que haja barreiras entre as disciplinas.Nesse caminho o maior desafio que vejo é o trabalho em equipe de todo o corpo escolar, visto em em nossa realidade cada um ainda encontra-se com "amarras", num trabalho muito individualizado. Está acontecendo a mobilização pela educação e desta surgindo respingos da interdisciplinaridade e quem sabe, conseguiremos caminhar rumo a transdisciplinaridade; Você como professor universitário já está trabalhando nesse norte? Você é 10! Sorte!

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