Cinemas de rua: realidade ou ficção? Por Raquel Rolnik

Abaixo reproduzo artigo da profa. Raquel Rolnik, urbanista renomada, referente aos chamados "cinemas de rua". Ela comenta sobre o problema da capital onde ela vive - São Paulo - mas aqui em Natal, existem os mesmos órfãos (como eu). No meu caso, ainda pude frequentar as salas que sobreviveram à crise dos cinemas da década de 1980: pude sentar nas cadeiras do Cine Nordeste (cuja fachada foi destruída pela loja que hoje ocupa o seu lugar) e o Cine Rio Grande (hoje, ocupado por uma Igreja Evangélica), bem como o que restou dele, o Cine Rio Verde.
Está mais do que na hora dos cinéfilos locais se organizarem para tematizar isso nessa eleição municipal que se aproxima.
Abraços a todos. Fiquem com o artigo de Raquel.

"Se você detesta a ideia de precisar ir a um shopping center para ver um filme e morre de saudade dos cinemas de rua, saiba duas coisas: 1. Há milhares de pessoas como você, portanto, não se ache um louco solitário saudosista; 2. Há movimentos fortes em várias cidades, como São Paulo e Rio de Janeiro, que já têm conquistado a preservação e o retorno ao funcionamento de vários cinemas de rua que entraram em decadência a partir dos anos 1980, sucumbindo ao modelo do cinema de shopping.

Em São Paulo, por exemplo, no próximo sábado (17) — data que marca um ano do fechamento do Cine Belas Artes, na esquina da Rua da Consolação com a Avenida Paulista — será realizado um ato pela reabertura do cinema, às 16h, seguido de uma bicicletada, às 18h. É importante lembrar que a luta pela preservação dos cinemas de rua em São Paulo não é de hoje: em 2004 a cidade aprovou uma lei que concedia uma série de incentivos fiscais à manutenção das salas de rua, mas esta lei foi revogada em 2007. Em 2009, o Cine Marabá, uma das salas que fazia parte da chamada "cinelândia" paulistana, foi reaberto após um processo de restauro .

No Rio de Janeiro, em abril do ano passado, foi reaberto o Cine Joia, uma sala de apenas 87 lugares que funciona dentro de uma galeria em Copacabana, com programação de filmes alternativos — clássicos e de novos diretores — e ingressos a preços acessíveis. Já o famoso Cine Paissandu, no bairro do Flamengo, tem reestreia marcada para julho deste ano. Tombado desde 2008 como Patrimônio Cultural Carioca, desta vez o cinema — que foi ponto de encontro de jovens cinéfilos nos anos 1960 — abrigará também espaços para shows, peças de teatro, exposições, lojas e restaurantes. Também existem planos de reativar no Rio, ainda este ano, o Tijuca Palace, inaugurado em 1962 e fechado desde 1982.

Na zona norte do Rio, o prédio que durante décadas abrigou o Cine Vaz Lobo — inaugurado em 1941 — quase sucumbiu às retroescavadeiras da via Transcarioca, que está sendo construída para os Jogos Olímpicos de 2012. Graças à mobilização de moradores e pesquisadores, o projeto inicial foi alterado, preservando o prédio, e agora, a pedido da Rio Filmes, a reativação do cinema está sendo objeto de um estudo de viabilidade econômica junto à Secretaria Municipal do Patrimônio Cultural do Rio de Janeiro. O estudo inclui ainda outros seis cinemas de bairro.

Quem frequenta e ama os cinemas de rua, sabe que eles dão movimento e sentido aos espaços públicos e vice—versa: basta observar o que ocorre em torno do Espaço Unibanco, na Rua Augusta, em São Paulo. Estes cinemas fazem parte do ethos cultural das cidades e bairros, são pontos de encontro, rituais de escape, divertimento, sonho e reflexão que extravasam das salas para as calçadas ao redor. Lutar pela permanência destas salas, portanto, vai muito além de defender a continuidade de uma atividade ou de um edifício e deveria — cada vez mais! — ser objeto de políticas urbanas e culturais das cidades, estados e do governo federal."

Comentários

VITORIANO disse…
assinando em baixo.
VITORIANO disse…
assinando em baixo.

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