Onde o Forró de Plástico não tem vez...Outro São João é possível.
Ainda não havia postado nadinha sobre minha passagem por Bananeiras, cidade do brejo paraibano, distante 130 km de João Pessoa, onde pude testemunhar que (parafraseando a célebre frase do Fórum Social Mundial) "Outro São João É Possível"...baixada a fumaça das fogueiras e desaparecidos os fogos nos céus, eis que que posso dizer que foi uma agradável surpresa ver uma cidade mobilizada em festejos juninos, cuja trilha sonora não é o chamado "forró de plástico" (ou "forró pela metade", como denomina meu querido Djalma Mota, de Caicó)
É a materialização do conceito que Chico César ("Mama Áfricaaaa...a minha mããe é mãe solteiraaaa"), atual Secretário de Cultura da Paraíba tornou público antes das festividades e que causou furor em muita gente.
Chico afirmou que não liberaria dinheiro público àqueles municípios cuja programação das festividades juninas contivessem artistas que não fossem do chamado "forró de raiz" ou "forró pé de serra". Por trás (ou pela frente, como queiram) da decisão, uma compreensão clara de que o Poder Público deve ter "critério" e "conceito" em suas decisões e que se isso vale em qualquer área das políticas públicas, deve valer, também, para os recursos que são despejados na seara cultural.
Muitos protestaram, mas os argumentos dele são consistentes. Ele deixou claro que o poder público não poderia entrar no chamado esquema do jabá, uma prática pela qual artistas e gravadoras poderosas compram (de maneira pouco transparente) espaço em rádios e TV (que são concessões públicas), monopolizando, assim, a grade de programação. Segundo ele, e é verdade, "a maioria dos meios de comunicação está atrelada a majors (grandes gravadoras como a EMI e Som Livre), restando um espaço desproporcional ou ínfimo para o que é produzido fora desta indústria. (Folha 13)
Além disso, ele aponta a dicotomia entre o mercado e a herança não-material, e que se deveria focar os recursos públicos na segunda durante o São João. “Os dois são legítimos, e eu faço parte do mercado, mas essas bandas não precisam de apoio do Estado para sobreviverem, como acontece com as bandas históricas de forró. Nosso trabalho é dar visibilidade a quem não tem mercado”.(Entrevista G1)
As distorções pela presença maciça desse modelo são claras e alimentam a marginalização de outras propostas estéticas pelo simples fato de não terem circulação. Sobre isso ele ilustra: "Não faz muito tempo vaiaram Sivuca em festa junina paga com dinheiro público aqui na Paraíba porque ele, já velhinho, tocava sanfona em vez de teclado e não tinha moças seminuas dançando em seu palco. Vaias também recebeu Geraldo Azevedo porque ele cantava Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro em festa junina financiada pelo governo aqui na Paraíba, enquanto o público, esperando a dupla sertaneja, gritava "Zezé cadê você? Eu vim aqui só pra te ver".(Teia de notícias)
Essa ideia não é nova, nem ele é pioneiro. Ariano Suassuna, quando Secretário de Cultura de Pernambuco fez o mesmo e muitos reclamaram, inclusive artistas respeitáveis. Mas o fato é que num contexto em que se pensa que o que foi aceito pelo mercado o foi porque é bom ou que o Estado deve financiar um arbitrário e ambíguo "gosto médio", para parecer democrático, o gestor público de cultura precisa, sim, discernir de maneira clara o papel do Estado no sentido da valorização da DIVERSIDADE CULTURAL e ser um mecanismo de afirmação disso.
Assim, me deliciei em ver as pessoas entoando deliciosamente as aventuras de Pedro Caroço de olho na Butique de Severina Xique-Xique, do mesmo jeito que presenciei (e me arrepiei) anos atrás 2.500 jovens (urbanos) recitando "Ai Se Sêsse", do também paraibano Zé da Luz, acompanhando Lirinha do Cordel do Fogo Encantado...
É a materialização do conceito que Chico César ("Mama Áfricaaaa...a minha mããe é mãe solteiraaaa"), atual Secretário de Cultura da Paraíba tornou público antes das festividades e que causou furor em muita gente.
Chico afirmou que não liberaria dinheiro público àqueles municípios cuja programação das festividades juninas contivessem artistas que não fossem do chamado "forró de raiz" ou "forró pé de serra". Por trás (ou pela frente, como queiram) da decisão, uma compreensão clara de que o Poder Público deve ter "critério" e "conceito" em suas decisões e que se isso vale em qualquer área das políticas públicas, deve valer, também, para os recursos que são despejados na seara cultural.
Muitos protestaram, mas os argumentos dele são consistentes. Ele deixou claro que o poder público não poderia entrar no chamado esquema do jabá, uma prática pela qual artistas e gravadoras poderosas compram (de maneira pouco transparente) espaço em rádios e TV (que são concessões públicas), monopolizando, assim, a grade de programação. Segundo ele, e é verdade, "a maioria dos meios de comunicação está atrelada a majors (grandes gravadoras como a EMI e Som Livre), restando um espaço desproporcional ou ínfimo para o que é produzido fora desta indústria. (Folha 13)
Além disso, ele aponta a dicotomia entre o mercado e a herança não-material, e que se deveria focar os recursos públicos na segunda durante o São João. “Os dois são legítimos, e eu faço parte do mercado, mas essas bandas não precisam de apoio do Estado para sobreviverem, como acontece com as bandas históricas de forró. Nosso trabalho é dar visibilidade a quem não tem mercado”.(Entrevista G1)
As distorções pela presença maciça desse modelo são claras e alimentam a marginalização de outras propostas estéticas pelo simples fato de não terem circulação. Sobre isso ele ilustra: "Não faz muito tempo vaiaram Sivuca em festa junina paga com dinheiro público aqui na Paraíba porque ele, já velhinho, tocava sanfona em vez de teclado e não tinha moças seminuas dançando em seu palco. Vaias também recebeu Geraldo Azevedo porque ele cantava Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro em festa junina financiada pelo governo aqui na Paraíba, enquanto o público, esperando a dupla sertaneja, gritava "Zezé cadê você? Eu vim aqui só pra te ver".(Teia de notícias)
Essa ideia não é nova, nem ele é pioneiro. Ariano Suassuna, quando Secretário de Cultura de Pernambuco fez o mesmo e muitos reclamaram, inclusive artistas respeitáveis. Mas o fato é que num contexto em que se pensa que o que foi aceito pelo mercado o foi porque é bom ou que o Estado deve financiar um arbitrário e ambíguo "gosto médio", para parecer democrático, o gestor público de cultura precisa, sim, discernir de maneira clara o papel do Estado no sentido da valorização da DIVERSIDADE CULTURAL e ser um mecanismo de afirmação disso.
Assim, me deliciei em ver as pessoas entoando deliciosamente as aventuras de Pedro Caroço de olho na Butique de Severina Xique-Xique, do mesmo jeito que presenciei (e me arrepiei) anos atrás 2.500 jovens (urbanos) recitando "Ai Se Sêsse", do também paraibano Zé da Luz, acompanhando Lirinha do Cordel do Fogo Encantado...
Comentários
Mais uma vez agradeço sua referência ao que faço.Concordo com o texto publicado. Temos que repudiar tais atitudes, mesmo com toda resistência dessa gente alienada que não sabe o que verdadeiramente está por trás desses grupos organizados da "musica" ruim - Um grande cartel distribuidor de jabás. Saudações!