Amandas, Fanquinhas, Fernandas e Marises...lutadoras da educação potiguar

Minha amiga e colega Márcia Gurgel recebeu uma mensagem via email recebida por muitos outros conectados. A mensagem informava que a (igualmente amiga e colega) Amanda Gurgel havia recusado o prêmio a ela conferido pelo PNBE (Pensamento Nacional das Bases Empresariais) e em anexo apresentava a carta que ela escreveu aos que queriam premiá-la. Essa mensagem vinha acompanhada da frase chamativa “INACREDITÁVEL...EU PENSAVA QUE NÃO HAVIA PESSOAS ASSIM...”

Márcia enviou uma resposta a quem havia lhe encaminhado a mensagem que publico aqui, com a sua autorização. E faço não apenas em comunhão com sua opinião, mas pelas homenagens que ela faz a queridas professores que, como ela, conheci e aprendi a admirar. Cada uma delas, ao seu modo, me faz lembrar que precisamos, cada vez mais, de lutadoras (e lutadores) pela educação pública, ainda mais após termos acompanhado todo o processo (e os resultados) da recente greve que os educadores da rede pública estadual do RN empreenderam.

“A atitude da professora Amanda é louvável, demonstrando possuir um caráter sólido e coerente com os princípios que defende. Eu não a conheço pessoalmente, mas tenho acompanhado, pela mídia, sua defesa intransigente dos direitos dos educadores e de uma política de valorização dos seus salários e a parabenizo por são se curvar diante dessas ofertas de ilusão.
No entanto, a sua frase: INACREDITÁVEL...EU PENSAVA QUE NÃO HAVIA PESSOAS ASSIM... me deixou com vontade, me desculpe, de partilhar com você outros exemplos fortes da história da educação e de luta dos educadores desse estado, já que tenho um pouco mais de idade que você, só um pouco, não?
Como sou mais antiga, quero tomar a liberdade de afirmar que existem sim muitas pessoas assim, muitas pessoas que vêm lutando arduamente para defender uma educação de qualidade em nosso estado e no país. Pessoas que por um motivo ou outro nunca tiveram muito espaço na mídia para declararem as suas ideias, embora tenham gritado muito alto, ou que a mídia não considerou que seria interessante deixar essas pessoas 'falarem'. Pessoas que dedicaram toda a sua vida à luta pela educação, que continuam na direção do SINTE/RN, que entraram para a vida política, que seguiram sua atuação na escola ou em outros espaços educativos ou, ainda, que morreram.
Não cabe dizer todos os nomes aqui, porque são muitas e todas essas pessoas estão registradas na história e na memória dos educadores. Também tem aquelas muitas que não conheço. São educadores anônimos que mostraram seus contracheques em momentos de greve, que foram ameaçados com corte de salários e demissões, mas que continuaram lutando e denunciando as péssimas condições de trabalho e de salário com as quais convivem. Muitas delas nunca seriam nem convidadas a entrar na casa dos empresários.
Quero lhe apresentar apenas três exemplos de pessoas assim, com as quais tive o privilégio de conviver e que já nos deixaram, mas mereciam ter recebido muitos prêmios que não lhes concedemos.
A primeira é a nossa querida, respeitada e valorosa amiga, companheira educadora Marise Paiva. Essa foi à luta com todo vigor contra os poderosos e seus poderes, defendendo os educadores desse estado com garra e decisão, realizando conquistas em comissões e coordenações que assumia. Acompanhei de perto a sua ação determinada pela defesa dos seus princípios e garantia dos direitos de todos os trabalhadores por melhores condições de vida, no RN e em todo o país, frente ao movimento de educadores na ASSOERN, no SINTE/RN, no PT e na CUT. Não media esforços para participar ativamente de todas as lutas, mesmo quando Julinho, seu filhinho, clamava por sua presença. Ela falou alto e sua mensagem era clara, com sua voz forte, mas não foi ouvida nem era bem-vinda em casas de poderosos.
A segunda pessoa determinada, valente e guerreira foi Fanquinha, que faleceu essa semana (15 de julho), e que nos deixou o prêmio do seu trabalho em João Câmara e em todo o estado. Participava ativamente da mobilização dos educadores para se engajarem na luta por melhores salários junto ao SINTE/RN e também pela garantia do direito à educação de qualidade para os filhos e filhas da classe trabalhadora, em sua ação cotidiana nas escolas onde atuava. Seu grito nunca foi ouvido como deveria, mas repercutiu junto aos educadores em luta e muitos foram a João Câmara ontem prestar-lhe uma última homenagem.
A terceira pessoa valente e valorosa que clamou aos quatro ventos a sua defesa pelo direito das crianças de 0 a 6 anos à educação foi a professora Fernanda Jalles, da UFRN. Ela não só clamou, mas fez muito junto ao Núcleo de Educação Infantil, ao MIEIB, à Campanha Nacional pelo Direito à Educação, entre outras frentes, para concretizar conquistas imprescindíveis para as crianças, jovens e adultos e para a formação de educadores no RN e em todo o país. Prestamos, também ontem (17 de julho), a última homenagem a Fernanda, com o coração sangrando de tristeza e com um sentimento de orfandade pelo vazio que deixou na luta pelo direito à educação.
Junto a todos e todas militantes aguerridos e anônimos, Marise, Fanquinha e Fernanda nos deixaram seus legados de luta e desprendimento e merecem o prêmio dos nossos aplausos, gratidão e reconhecimento profissional e pessoal.
Além de tudo isso, as três tinham, coincidentemente, como característica comum: um sorriso iluminado e franco, uma alegria visceral que contagiava aos que com elas conviviam.  Eram, as três, pessoas extremamente afetivas e solidárias, que demonstravam extremo respeito pelos outros seres humanos, em especial por aqueles que viviam em condições indignas e desrespeitosas de profissão e de vida.
Lamentavelmente, essas três nunca entrarão para a história contada pelos poderosos nem aparecerão na mídia como personagens importantes da história da educação em nosso estado.
Assim, acredito sim que existem muitas Amandas, Marises, Fanquinhas e Fernandas entre os milhares de educadores desse estado e essas pessoas merecem nossos aplausos e agradecimentos por corajosamente mostrarem suas faces e clamarem mais alto que todos pelo direito inalienável à educação e por uma política de valorização do magistério.


Márcia Maria Gurgel Ribeiro – CE/UFRN”

Comentários

Teacher Mary disse…
Que bom professor que você compartilhe conosco a realidade dos fatos...

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