25 anos de...Cabeça Dinossauro

Faço parte de uma geração cujas principais descobertas adolescentes e juvenis, subjetivas ou coletivas, se deram envolvidas na trilha sonora do rock que emergiu feito uma espinha impetuosa na mídia brasileira, a partir dos anos 1980. Como sempre acontece, haviam aquelas bandas que "tinham uma mensagem" ou uma "atitude" e aquelas que apenas surfavam na "onda do rock" que ganhava generosos espaços na mídia.
Por essa época, minha cabeça (que já vinha sendo formatada pelo som dos Beatles) se deixa tomar pela poesia cantada e pelo som "sujo" do Barão Vermelho, como também pela pegada reggae/ska dos Paralamas do Sucesso (que era uma clara "antropofagia" do som do The Police). Lembro-me que tive uma namoradinha à época cuja paixão pelos Menudos (argh!!!) me colocavam num dilema básico: aceitar os impulsos dos meus hormônios e ignorar essa incompatibilidade ou ser fiel aos meus ouvidos "sujos" com a poesia de Cazuza e Frejat e aceitar aquela incompatibilidade básica...rsrs...
O mercado inventava (ou cedia espaço a) bandas na mesma velocidade com que as enterrava e assim quem ficou, ficou pela força artística que demonstrou. Os Titãs é uma expressão disso.
Mas voltemos a esse albúm que é reconhecidamente uma obra de arte já consagrada.
O disco foi lançado em finais de junho de 1986. O grupo já tinha no currículo  os irregulares "Titãs" (1984) e "Televisão" (1985) e entrava em estúdio para gravar o último disco do contrato com a gravadora WEA. O clima não era bom. Além da necessidade de se produzir um trabalho capaz de solidificar a banda no cenário musical e garantir a renovação do contrato com a gravadora, havia ainda a pressão de dois membros do grupo - Arnaldo Antunes e Tony Bellotto - meses antes, terem sido presos por porte de heroína.
Tudo isso e a clara vontade da banda em querer afirmar uma sonoridade mais pesada (contrariamente à sonoridade "new wave" dos albúns anteriores) fez com que os Titãs lançassem um dos mais importantes albúns da história da música brasileira - e não apenas do gênero rock - no mesmo ano em que os Paralamas do Sucesso alcançavam estrondoso sucesso com "Selvagem?", a Legião Urbana com "Dois", e o RPM com "Rádio Pirata Ao Vivo".
A capa foi baseada em um esboço do pintor italiano Leonardo Da Vinci, intitulado "A expressão de um homem urrando". Outro desenho de Da Vinci, "Cabeça Grotesca", foi para a contracapa do disco.

O disco é uma pancada punk rock, mas mostra entradas dos Titãs na sonoridade reggae ("Família") e no funk ("O Quê?", "Bichos Escrotos" e "Estado Violência"). As letras trazem abordagens ácidas frente às várias instituições pilares de nossa sociedade, expressas a começar pelo título das canções: "Polícia" (de Tony), "Igreja" (de Nando Reis), "Estado Violência" (primeira colaboração do baterista Charles Gavin como compositor dentro da banda). Há também críticas acerca do estado capitalista ("Homem primata") e os tributos abusivos pagos pela população ("Dívidas").
 A banda conseguiu, ainda, gravar "Bichos Escrotos", canção que tocavam desde 1982 e que só pôde ser gravada nesta ocasião. Mesmo assim, a censura vetou a faixa nas rádios por conta do verso "vão se foder!", o que não desencorajou algumas rádios a tocarem uma versão com a tal frase vetada, às vezes até a própria versão original, o que acarretava um pagamento de multa. Das 13 faixas do álbum, 11 foram executadas em rádios - como únicas exceções as faixas "A Face do Destruidor" e "Dívidas".
No mais, o disco definiu a sonoridade que se consolidou no disco seguinte (que para mim é ainda melhor do que este), "Jesus não tem dentes no país dos banguelas". Mas isso é tema de uma outra postagem.
Abaixo, uma apresentação dos Titãs no Espaço Cultural Virtual Cine Rio Branco, momento tardio de apresentação da banda aos fãs caicoenses que vibravam no momento em que esbravejavam "Vão se foder!!!", quando da execução de "Bichos Escrotos"...no início do vídeo, à esquerda, vê-se a turma do Bloco Aroma...à direita, Edivan da Farmácia.

Comentários

Teacher Mary disse…
Sem palavras para ambos posts...vou reproduzir o que li na revista lingua portuguesa de maio de 2001 por Moacir Godoi:
Arnaldo antônimo

"Senhoras e senhores,
vão emboras,
por favores.

A fera
não tolera
sofredores."

(A Fera, Arnaldo antunes)
Teacher Mary disse…
Leia-se maio de 2011, ao invés de 2001...
Abraço,
Sandra Rufino disse…
Tbe sou geração coca-cola rsrsrs. A década de 80 com a moda "new-wave" vixe eu usava melissinha e polaina, os meninos gel tenis conga ou all-star. Na música uma ruma de gente: Blitz, Barão, Titãs, Paralamas, Ultraje, Ira, Capital, Nenhum de Nós, RPM, Kid Abelha,Camisa de Vênus,Plebe Rude, Capital, Legião, Engenheiros do Hawaii, Biquini Cavadão, Zero, Garotos Podres, Inocentes e dos cantores Lulu Santos, Léo Jaime, Ritchie, Eduardo Dusek sem querer esgotar a lista que é grande...ai ai sds dessa pluraridade

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