PT 31 anos e algumas intuições para os próximos anos...

O PT completou 31 anos de idade. Não pude ir às festas, mas tive vontade de ir, afinal faço parte dessa história. Participei ativamente de pelo menos um terço da história do partido aqui no RN. E não foi qualquer terço não. Foi aquele primeiro terço, quando só se tinha uma kombi para se fazer uma campanha eleitoral no Estado todo; quando madrugávamos pixando muros ou rodando panfletos; quando retirávamos um pedaço da tarde, do dia ou da noite para distribuírmos os tais panfletos, rodados ao custo da contribuição voluntária de boa parte dos militantes...enfim, um tempo no qual a vontade de mudar a realidade e a paixão por alguns princípios políticos básicos foram o principal combustível para a existência do partido. Época em que muitos de nós eram até mesmo ridicularizados porque defendíamos energicamente um partido que não tinha expressão alguma, não tinha nenhum parlamentar...Mas isso era motivo, inclusive, para argumetarmos em defesa de nossos sonhos e projetos.
É verdade que o PT hoje é outro (tanto em seus aspectos positivos como negativos). Mas parte dessas mudanças é resultado, também, das mudanças pelas quais o próprio Brasil passou. O PT deixou de ser um partido que só atuava nas ruas, e passou a atuar nas instituições, porque elas também se democratizaram e aceitaram que aqueles "das ruas" tinham e tem o que dizer e fazer...das ruas nascem muitos caminhos. As mudanças de um alimentou as mudanças do outro. E essas mudanças do Brasil tem muito das próprias mudanças do PT.
O partido trouxe para a democracia brasileira novidades como o estímulo à participação dos filiados comuns nas decisões partidárias, as eleições diretas para seus órgãos dirigentes, mas, principalmente, conseguiu criar uma mística ideológica em torno de suas ações e discurso que acabaram por caracterizar "partidariamente" seus membros. Assim, foi se gestando no imaginário político brasileiro aquilo que passou a ser denominado como "coisa de petista" ou do "petismo" (ou dos "petralhas", como dizem seus detratores mais ácidos).
Mas, o principal mesmo, é a quebra de determinados preconceitos (através desse partido, pela primeira vez na história, tivemos como presidente, um operário e uma mulher ex-combatente da ditadura militar), o reforço de nossa democracia e a oferta de novas persepctivas para o país a partir de um projeto social e político que traz em seu bojo a recuperação da dignidade e cidadania de setores historicamente alijados da riqueza nacional.
Em que pese tudo isso, aqui no RN o PT está atolado em desafios e dilemas difíceis. Não consegue ampliar suas bancadas parlamentares tal como acontece em outros estados. Atravessa uma dificuldade em termos de renovação de suas lideranças partidárias. E ainda assumiu nos últimos anos estratégias políticas e táticas eleitorais que só trouxeram prejuízos. Trago aqui algumas questões desordenadas que me vieram à mente por esses dias.
Em 2002, o PT apoiou a candidatura do PSB (Wilma de Faria) no segundo turno, mais por pressão da conjuntura eleitoral presidencial (reforçar os apoios estaduais à candidatura Lula) do que por uma compreensão de que, de fato, aquele projeto representaria um avanço para o Estado. Em 2004, Wilma passou a ser aliada preferencial e o partido integrou o governo. A experiência de participação no governo foi tumultuada, com conflitos evidentes na gestão da saúde e na trágica passagem pela Fundação José Augusto. Mas, em nenhum momento o partido teve coragem de "peitar" os rumos que a governadora estava dando ao processo.
Um dos desdobramentos dessa relação com o PSB, foi a confusa relação com o ex-prefeito Carlos Eduardo. Em 2002, Carlos Eduardo, então vice de Wilma, assumiu a prefeitura e foi aberto a vinda de petistas na participação do governo. O partido não apenas se posicionou como "independente" em relação ao novo prefeito, como convidou os petistas que ocupassem cargos na gestão a "saírem" do partido. Em 2004, sem autocrítica alguma, passa a compor a gestão do (então diretamente eleito) prefeito Carlos Eduardo e lança (mais uma vez) Fátima Bezerra para prefeita, em 2008, com o apoio dele.
Agora, 2011 começa com o PT (e tudo aquilo que se possa ser chamado de "esquerda") carregando a derrota para a Borboleta do PV em 2008 e a acachapante derrota para a Rosa de Mossoró. Preparar-se para 2012 e 2014 significa avaliar o que está por vir.
Minha pobre e limitada intuição política aponta que:
a) A derrota de Wilma (e a divulgação da situação financeira da máquina pública por ela deixado à sua sucessora) foi a derrota de um projeto político ao qual o PT não pode ser submeter: um projeto personalista (as deceisões e arranjos políticos se concentram no reforço antecipado da própria Wilma, minguando as estruturas partidárias - por isso o PSB vem decrescendo no Estado); que submete setores estratégicos da ação do Estado (como saúde e educação) a conveniências politiqueiras (foram 10 secretários de educação em 8 anos); e que não tem criatividade para gestar processos e mecanismos de desenvolvimento local que não estejam apoiados pelas instâncias federais (a maioria das políticas estaduais são meras continuidades ou réplicas das políticas nacionais, dado que recebem financiamento federal).
b) Desde o início de sua administração, em 2002, Carlos Eduardo Alves (ainda no PSB) apontava para um certo distanciamento da liderança de Wilma. Isso se processou e ganhou força tanto após sua vitória eleitoral em 2004, como nos embates que ele teve com a então governadora (e que o PT nunca teve coragem de realizar, basta ver a postura servil dos gestores da FJA ante ao cozimento em banho-maria que Wilma fez com o Crispiniano). Hoje ele não está submetido a ela. E, diante do fracasso da Borboleta Verde, aparece como referência de um projeto que, mesmo com eventuais problemas, tinha uma relação transparente, democrática e corajosa em tratar determinadas questões estratégicas da cidade (vide o enfrentamento om a Máfia Branca - aquela dos médicos - e com a especulação imobiliária local).
c) O partido precisa desde já apontar o seu candidato a prefeito em 2012, trabalhando esse nome como referência de um projeto. A ideia de "discutir um projeto primeiro e depois os nomes" é nobre, mas as coisas podem andar paralelas, afinal, já que os nomes não representam a si mesmos, que tenham coragem de se lançar e respeitar que os projetos possam eventualmente não serem do seu inteiro agrado. Para isso, há o processo de negociação política pré e pós eleição. Nesse caso, o partido tem um nome forte: Fernando Mineiro, mais dentificado historicamente mais a projetos coletivos que ambições (ou obsessões políticas) pessoais, com trânsito nos movimentos sociais, parlamentar competente e sobejamente conhecido pela postura ética e anticorrupção.
Por fim, a menos que o partido queira voltar "às origens" e não fazer alianças com ninguém, há de se buscar essa construçao desde já, olhando não apenas 2012 mas 2014. Parece-me que a montagem de uma força política capaz de apresentar um projeto novo, democrático e sintonizado com tudo o que já acumulou-se com o Governo Lula e que se pode acumular com o Governo Dilma, passa por uma aliança que envolve a formação de um Bloco que envolva o PCdoB e o PDT (com um diálogo franco e estratégico com Carlos Eduardo, pela sua densidade eleitoral e potencial de ampliação política que ele proporciona).
No mais, gostaria de informar que minha dissertação de mestrado, sobre a trajetória do PT do RN, entre 1980 e 1990, encontra-se disponível para quem quiser baixar, no seguinte endereço: http://www.4shared.com/file/ulbzpsrC/Dissertao_de_Mestrado.html já que o livro (lançado pela EDUFRN) encontra-se esgotado.
Abraços

Comentários

Ruy Rocha disse…
Gostei do seu texto, meu caro. Qual seria a viabilidade da candidatura de Mineiro? Eis uma boa pergunta.
Luiz Gomes disse…
Boas recordações e intuições companheiro! Enquanto entendermos que esse Partido ainda é de luta estaremos prontos a darmos continuidade às lutas que vocês um dia travaram!

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