IFRN: depoimento de um professor e de um ex-futuro aluno.

Recebi via email um depoimento atribuído ao professor Gilson Gomes de Medeiros, do IFRN. Eu não o conheço. E resolvi publica-la porque além de estar de acordo com seu conteúdo, me fez lembrar a "relação" que tenho com o IFRN desde a época em que era ETFRN.
Quando tinha 13 anos, o desejo de sair de Caicó (onde nasci) para conhecer outras pessoas, viver outras experiências e construir um futuro melhor do que a cidade me oferecia se traduzia em ser aprovado na seleção da (então) ETFRN. Não era algo que meus pais gostassem muito, face a conseqüência de que eu sairia de perto deles tão jovem. Mas lá fui eu fazer a seleção. Não fui aprovado. E a "fuga" para outro lugar aconteceu quatro anos depois, quando passei no vestibular em Ciências Sociais, na UFRN, em Natal.
Estou a relatar isso, porque alguns colegas meus da escola pública onde estudei sequer puderam fazer a seleção, porque não tinham como se deslocar até Natal, ou mesmo, não havia nenhuma possibilidade de terem onde morar em caso de serem aprovados (nem todo mundo sabia da Casa do Estudante, e quem sabia, também tinha conhecimento da precariedade que lá existia).
Uma Escola Técnica Federal sempre foi um "sonho" da população de Caicó e sempre foi uma daquelas promessas tradicionais que ano após ano se instalavam nas bocas das lideranças políticas, agripinas ou garibaldas, de nosso Estado quando chegavam por lá. Mas, apesar de essas lideranças estarem no comando de nosso Estado há cerca de trinta anos, com livre trânsito pelas salas dos presidentes que ocuparam o Palácio do Planalto durante todo esse tempo, somente quando Lula e o PT conseguiram tornarem-se poder, é que a promessa veio se concretizar. E pelas mãos da Fátima Bezerra, apesar de ser a única deputada do PT no conjunto da bancada do RN.
Minha mãe, que sempre ouviu aquelas promessas garibaldinas e agripinas, não precisará ver um filho dela sair de Caicó para fazer uma Escola Técnica. Meu irmão caçula está na que foi erguida em Caicó ano passado. E, provavelmente, algum irmão ou filho ou amigo ou agregado daqueles meus colegas que não puderam ir fazer a seleção em Natal, devem estar com algum parente lá no IFRN de Caicó.
É por essas e outras que tenho dito a cada pessoa que não sabe em quem votar ou que não votará em ninguém nesta eleição, que pense bem. Nossas escolhas políticas e eleitorais não valem para nós individualmente. Valem para todos. E se espraiam pelos anos seguintes. Fazem história.
O relato do professor Gilson nos remete à mesma lição. Por outro caminho, é verdade. Mas as memórias dele (como professor que viveu os anos de um governo tucano naquela instituição) e as minhas (como ex-futuro aluno da ETFRN) nos fazem chegar ao mesmo ponto.

"Como funcionário público federal, devidamente concursado, de dois órgãos subordinados ao Ministério da Educação, tive oportunidade de participar da direção de um deles - o CEFET, atual Instituto Federal
(IF) - quando, no governo FHC (do qual fez parte o Ministro Serra, hoje candidato), o MEC era dirigido pelo Sr. Paulo Renato. Esse ministro tratou à míngua as nossas instituições de educação mais importantes - o então CEFET e a UFRN.

Pela primeira vez na história, uma instituição centenária como a nossa teve o desprazer de ter telefones e energia elétrica cortados por falta de pagamento, mas não pagávamos porque no orçamento não
havia verba suficiente para isso. Eu era gerente de uma área de ensino com 1200 alunos e mais de 100 professores, e não tinha recursos na minha gerência para comprar um cartucho de tinta para uma impressora,
e muitas vezes tive de tirar dinheiro do próprio bolso para essa e outras necessidades, de forma a não deixar de atender aos alunos e a seus pais. Houve uma forte intenção de "quebrar" o CEFET para depois
privatizá-lo. Graças a Deus e aos esforços dos que nele trabalham, isso não ocorreu.

Com o atual governo, ao contrário, não só tivemos mais facilidades de manutenção, como pudemos ainda expandir o Instituto para muitas cidades do interior - Apodi, Pau dos Ferros, João Câmara, Santa Cruz,
Caicó, Ipanguaçu, Currais Novos, e agora Parnamirim, São Gonçalo e Nova Cruz, além de melhorar as nossas unidades já existentes em Natal e em Mossoró - e abrir mais duas escolas em Natal, uma na Zona Norte e outra na Av. Rio Branco. Muito dinheiro foi investido em construções, equipamentos e na contratação, por concurso, de dezenas de professores. Com isso, um número ainda maior de jovens (e de adultos também) passou a ser atendido pelo nosso IF.

Por essas razões, gostaria de não ver essa escola a quem já dediquei 30 anos de minha vida profissional, escola que goza o respeito de todo o nosso RN, ficar refém mais uma vez da política de "terra arrasada?
do Sr. Paulo Renato (que foi Secretário de Educação do governo José Serra em São Paulo e, ao que tudo indica, poderá voltar ao MEC em caso de vitória tucana e se não for ele será outro com igual pensamento).
Sou, então, impelido a votar na continuidade da política educacional do atual governo federal embora a grande imprensa nacional faça a ele e à sua candidata uma campanha acirrada e desleal procurando
desmoralizá-los impiedosamente (e nesse ponto os boatos na internet têm colaborado com as piores e impublicáveis baixarias. E por isso votarei novamente como fiz no primeiro turno em Dilma para presidente.

Respeitosa e democraticamente, acato a posição contrária de qualquer pessoa, porque cada um tem seus próprios motivos para escolher em quem votar. Mas faço esse esclarecimento porque acho que é preciso pensar no perigo que correm as nossas Instituições Educacionais (não só o IF, mas também a Universidade Federal, outra vítima dos anos de governo do PSDB) e todos os jovens que dela dependem. Resumindo com uma frase que não é minha, mas que eu gostaria de ter escrito: Dilma não chega a ser a candidata dos meus sonhos, mas Serra é hoje o candidato dos meus maiores pesadelos."

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Briga na Procissão, de Chico Pedrosa

A intempestividade da proposta de desfiliação do ADURN ao PROIFES

PROIFES e ANDES-SN: quando enfatizar diferenças é sinal de fraqueza