Impressões da Festa de Santana 2010, parte 1

Minhas visitas a Caicó têm se dado numa média de uma vez por ano. Sempre é um momento agradável, em que revejo amigos de infância e de adolescência, bem como amigos conquistados mais recentemente por ocasião de minha passagem como professor do CERES. Quando vou a Caicó me encho de vários sentimentos bons, saudosos, mas também olho para a cidade com os olhos de quem - no fundo - se sente ligado não apenas ao seu passado, mas ao seu presente e ao seu futuro. Penso que talvez seja isso que esteja nas profundezas do que alguns chamam de "estar preso às suas origens" ou sentir-se "enraizado". Ainda que premido por globalizações e pós-modernidades, ainda olho para a terra onde fui parido e sinto-me (em alguma medida) ligado ao seu destino. Por isso tantas postagens relacionadas a esse lugar (veja http://quixotesforrosebaioes.blogspot.com/search/label/Caic%C3%B3)
Este ano fui à Festa de Santana e voltei com uma vontade danada de postar minha impressão sobre o que vi por lá e sobre as conversas que tive com pessoas casualmente encontradas, para conversas casuais e pautas aleatórias.
Em primeiro lugar, vi que o Complexo Turístico denominado Ilha de Santana conseguiu se consolidar como centro das atividades mundanas da Festa (já que a parte religiosa continua ali nos arredores da Matriz de Santana), ao mesmo tempo em que desafogou toda a área que circundava a Matriz, desconcentrando o fluxo de pessoas, tornando suportável o ir e vir de gente pelas ruas ao redor da Praça da Liberdade e Praça da Matriz, possibilitando que qualquer um possa curtir a Festa como bem entender: se quiser levar os filhos aos brinquedos instalados na Ilha o fará sem empurra-empurra de gente; se quiser beber e comer acompanhado de uma boa conversa, igualmente, poderá fazê-lo; e se, por fim, estiver a fim de ficar enfiado numa multidão ouvindo uma banda de forró ("de plástico", como diz meu colega professor de saxofone JP), também poderá. Ainda assim, caso queira ver um belo espetáculo cênico sobre o culto dos locais à Santana ou participar de momentos de pura espontaneidade e acolhimento, pode programar-se na Casa de Cultura Popular, onde era o Sobrado do Pe. Guerra. Aliás, na Casa de Cultura Popular, onde mais fui, o clima de aconchego reinante me fez ter a sensação de estar em família ou junto de amigos de longas datas, sem que, de fato, conhecesse a maioria dos que estavam ali. E ali vimos músicos, poetas, atores e atrizes, desfilarem sua arte como se estivéssemos na intimidade de nossas respectivas casas. Parabéns ao pessoal da Casa (Dodora, Custódio e Santana - a moça que nos atendia).
Apesar disso, não posso deixar de registrar que o Poço de Santana continua sendo apenas uma mancha de água circundando lateralmente a Ilha, carente de uma verdadeira limpeza e do seu reconhecimento como berço daquela civilização (sim, Diógenes da Cunha Lima já disse que o Seridó é uma civilização...rs).
Um outro registro crítico que me parece ser necessário ser feito é a baixa diversidade da programação do palco central da Ilha. Ali, todas noites, o que vemos são aquelas bandas que o vocalista anuncia com toda pompa, aos berros: "forrozãããoooo Merdacombostaaaa"...Aquele espaço poderia acolher uma diversidade de artistas, dos mais variados estilos e, assim, oferecer à população algo mais do que já se conhece e já se ouve por aí...é uma questão delicada que envolve muitas outras questões, mas conhecendo outras festas em que o poder público investe recursos para trazer ou promover artistas, vejo que é possível (e saudável) que a programação cultural de um evento do porte da Festa de Santana, num palco com aquelas dimensões, seja marcada pela DIVERSIDADE e não pela UNIFORMIDADE cultural. Quem quiser saber mais é só procurar ver como se organizam eventos grandiosos como o Festival de Arte e Cultura de Garanhuns, o Festival de Inverno de Campina Grande ou mesmo o Festival Gastronômico de Garanhuns ou de Cerro Corá.
Próxima postagem tentarei escreverei sobre o Auto de Santana 2010.
Abraços a todos.

Comentários

Anônimo disse…
Até entendo o seu ponto de vista (em relação as bandas de forró), mas convenhamos...são trabalhadores,muitas vezes, pais e mães de família, que estão buscando o seu ganha pão.
Anônimo disse…
Quanto preconceito!!!!!!!!!
Sandro Abayomi disse…
Adorei os comentários. Espero que na próxima vez os comentaristas se identifiquem. Fica mais legal a conversa. Penso que ambos comentários pecam por se deixarem enclausurar pela lógica de quem produz os tais eventos e a programação da festa, se não vejamos: é preconceito meu defender uma programação COM DIVERSIDADE ou de quem organiza uma programação dando lugar apenas a determinados tipos de estilos (ainda mais se tratando de dinheiro público)? Quanto à condição de trabalhadores, o mesmo não se aplica a outros artistas locais ou "de menor expressão" que, exatamente por não compartilharem com determinadas fórmulas comerciais de produção musical merecem, também, ganhar seu pão? São tão trabalhadores quanto Sirano e Sirino? Então porque não podem ter o mesmo espaço? Quanto ao preconceito, devo dizer que não tenho preconceito, mas CONCEITO mesmo: não gosto de quem banaliza a sexualidade e conduz um espetáculo perguntando ao público quem é rapariga e raparigueiro...Isso não se enquadra no meu CONCEITO de arte...Está aberta a discussão...abraços a todos.
su medeiros disse…
Tem razão Sandro, a Festa de Santana passou a ser a "Festa na Ilha". Fico feliz que não tenha vindo na Festa do Rosário, a decepção teria sido bem maior

Postagens mais visitadas deste blog

Briga na Procissão, de Chico Pedrosa

A intempestividade da proposta de desfiliação do ADURN ao PROIFES

PROIFES e ANDES-SN: quando enfatizar diferenças é sinal de fraqueza