TRAJETÓRIAS E TRAGÉDIAS...


Em meio ao noticiário policial da moda...
Ele...negro e pobre...estudava de dia e frequentava as atividades de um projeto social executado por uma ONG num bairro de periferia de uma metrópole do sul do país. Nunca havia ganho, sequer, um velocípede de presente dos pobres pais.
Ela...branca, como a maioria das meninas que nascem no Sul do país...estudou em escola pública também, já que os pais não tinham como sustenta-la em escola privada. Sonhava em ganhar uma Barbie de presente de aniversário.
Ele...logo cedo, seus atributos no mais popular esporte do país começaram a aparecer...bom de bola, percebeu que nesse ambiente poderia alcançar uma qualidade de vida que seus pais jamais alcançaram, nem seus antepassados mais distantes...
Ela...logo cedo, percebeu que seus (belos) atributos físicos poderiam dar-lhe oportunidades e abrir portas cujos resultados poderiam ser, sim, uma melhoria de qualidade de vida que poucas meninas da sua idade teriam...com o apoio das professoras da escola sempre compunha grupos de dança onde as meninas ensaiavam e reproduziam coreografias daqueles grupos de Axé muito em moda na época. Assim revelava suas qualidades corporais envolta no universo libidinoso e sexuado que aquelas músicas e coreografias promoviam.
Ele, mais tarde, teve seu talento futebolístico reconhecido e passou a treinar em um grande clube da capital...depois foi contratado por outro...foi adquirindo status e respeito público inimaginável. Tornou-se famoso. Campeão estadual. Brasileiro. Já conseguia comprar carrões caros e presentear amigos de infância com outros carrões igualmente caros. Tudo seguia um roteiro cinematográfico.
Ela, mais tarde, já conseguia adentrar-se no mundo da moda e no mercado do corpo, utilizando-se de sua reconhecida beleza. Desfiles, fotos, campanhas publicitárias...tudo isso dava um pouco de grana, mas, principalmente, abria portas para outras possibilidades de ganhos financeiros: fazer filmes pornô e frequentar festas privê (voltadas a empresários, artistas, políticos e jogadores de futebol), um (sub)mundo lúdico-sexual bem conhecido mas pouco investigado, onde rola muita grana e prostituição. Com a grana que ganhava, já podia se vestir com as roupas que sempre desejou. Ter os carros que sempre quis. E já se organizava para comprar um apartamento próprio.
Ele, envolto no status proporcionado pela fama imediata no mundo do futebol, é convidado a uma festa: bebida e mulheres, livremente expostas para serem bebidas e comidas. Uma reprodução das festas em honra a Baco ou a Dionísio, na antiguidade greco-romana...afinal, ali estavam divindades modernas, midiáticas...
Ela, já totalmente enturmada no circuito sexista, é convidada a participar de uma das festas "de bacanas".
Essas duas trajetórias se encontram. Explodem em noite de intensa orgia.
Um dos desfechos possíveis dessa história anda pululando pelos principais espaços da mídia...infelizmente...tristemente...

Comentários

Samis disse…
olá Sandro,

gostei muito do texto,por ter não pelo enfoque de culpados ou vítimas tão enfocado na mídia (que sempre coloca o individuo isolado)

Até mais,

vou seguir teu blog...

Samira

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