Muitas Felicidades a Carlos Caetano!

Mais uma Copa do Mundo que passa e andando pelas ruas vejo os rostos um tanto tristes e lamentosos, pintados pelas tintas de um patriotismo que só a Copa do Mundo (na falta de guerras) revela.
Sinceramente não entendo a tristeza. As pessoas continuam vendo a seleção de futebol da CBF como se fosse "a seleção brasileira", isto é, a reunião dos melhores jogadores em atividade por alguém que representa ou sintetiza esse reconhecimento. Não é bem assim, sabemos. Talvez nunca tenha sido. E sabemos que qualquer um que ocupasse o posto de treinador da seleção sofreria todas as pressões que o técnico brasileiro sofreu e teria que conviver com a pergunta em forma de cruz "por que não escalou...fulano?".
Quando me perguntavam por quem eu estava torcendo eu respondia que em cada grupo havia uma preferência. Em princípio poderia parecer uma resposta reveladora de uma artimanha dos que tem medo ou vergonha de perder ou sofrer com as derrotas. Mas àqueles que perguntavam por quem eu torcia, então, em cada grupo, se revelava o contrário dessa primeira impressão: de cara, estava torcendo por cada um dos times representantes do continente africano. Depois, apareciam as nuances latinoamericanas: o Paraguai no Grupo da Itália e o Chile no Grupo da Espanha. Entre os europeus, apenas uma seleção movia, de verdade, minhas preferências: a da Holanda, não pelo futebol que apresenta hoje e mais pelos ecos do Carrosel de 1974, que somente vi aos pedaços em 1978, ainda assim incapaz de entender o futebol em seus aspectos técnicos e táticos, pois só tinha 11 anos na época.
Assim, minhas afeições tinham, na verdade, a cara de meus pendores pelos fracos e oprimidos e por algo que me conduz, portanto, ao que alguns cronistas e entendidos de futebol chamam de "futebol arte", representado pelo Brasil de 1970 e pela Holanda de 1974. Mas quando interpelada por essa expressão, minha memória me conduz ao Brasil de 1982.
Sou um dos órfãos (ou viúvos) daquela seleção celebrada por muitos como a melhor depois da de 1970. Com ela aprendi que no futebol é possível sim que "os melhores" não ganhem. Portanto, futebol não era um "conto de fadas". Alguns já sabiam disso antes de mim (quem viu o Brasil de 1950 ou a Hungria de 1954 jogarem). A derrota daquele time também cristalizou em mim um (estranho?) sentimento de que quem joga "feio" e ganha não merece minha alegria, muito menos quem joga "feio" e perde merece minhas lamentações. Assim, consigo entender porque não vibrei com a conquista de 1994, muito menos a de 2002 (a não ser pelo jogo contra a Inglaterra ou pela performance de Ronaldo, o Fenômeno, na final contra a Alemanha, enterrando os que o haviam enterrado meses antes). Mas como sofrer pela derrota desse time formado na antipatia de Carlos Caetano Bledorn Verri (este é o verdadeiro nome do técnico brasileiro)? Como apreciador de conto de fadas, para mim Dunga sempre foi aquele anão simpático que em nada parece com o tal técnico. Até compreendo, como ser humano, toda sua antipatia para com a imprensa...para mim, como reação é compreensível, mas como uma "marca", um traço de conduta, não...
Assim, como sofrer ou lamentar pela derrota do autoritarismo, do rancor, da dureza que fere? Como sofrer pela derrota de um patriotismo fajuto, porque forjado numa lógica do "panelismo" (só jogava quem o obedecia cegamente)?
Como lamentar pela derrota de um esquema que, se vencedor, engessaria nosso já sofrido futebol brasileiro nos marcos das táticas anti-criatividade e reforçaria um modelo que tem feito com que os clubes chamados "pequenos" continuem cada vez mais pequenos (vide os problemas que os clubes do Norte e Nordeste tem passado, ganhando títulos estaduais, mas sem estrutura para disputar competições de caráter nacional)?
A vitória da seleção da CBF traria oxigênio para um modelo de gestão do futebol que concentra poderes e elitiza esse esporte; e para os modelos táticos que apostam que a vitória é apenas o resultado dos erros do adversário e não dos acertos e do poder criativo de quem está no jogo. E apesar da trajédia do Sarriá, em 5 de julho de 1982, prefiro sofrer verdadeiramente pela derrota de verdadeiros artistas do que a falsa alegria da vitória dos brutamontes...patriotas ou não...
Até 2014...

Comentários

elis disse…
Nunca imaginei que alguém pudesse escrever tão belamente sobre futebol, algo que considero tão técnico! fiquei triste com a saída do Brasil da copa sim... será mesmo que tenho sempre que esperar um espetáculo cinematográfico de jogadores brasileiros como se fossem atores circenses? =) bjo e parabéns!
Sandro Abayomi disse…
Oi Elis. Obrigado pela visita e pelas palavras. Mas se queres mesmo ver como alguém pode falar de futebol com poesia, dê uma olhada numa crônica do grande ARMANDO NOGUEIRA que postei em Abril (http://quixotesforrosebaioes.blogspot.com/2010/04/uma-cronica-de-armando-nogueira-para.html). Depois procure pelas crônicas dele que andam velejando pelos mares da net. Beijos.
Pernambucana disse…
Dunga se mostrou extremamente arrogante ao apresentar um comportamento incompatível com seu cargo. Sim...um treinador que não sentiu "necessidade" de explicar suas escolhas a ninguém! Agora é esperar pra ver quem se "habilitará" a assumir esse cargo.Infelizmente não foi dessa vez que conquistamos o Hexa. Até 2014...

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