Boris Casoy, isto é uma vergonha!

O último telejornal da TV Bandeirantes de 2009 já está na história da televisão brasileira. Ao encerrar o Jornal da Band, em 31 de dezembro último, a produção do telejornal exibiu uma dupla de garis de São Paulo desejando da forma mais simplória um feliz ano novo a todos que lhes assistiam. Talvez tenha sido a primeira e única vez em que tenham se sentido "visíveis" já que vivem num quase permanente estado de "invisibilidade social". Na sequência, um erro técnico faz vazar o áudio do estúdio e o jornalista, âncora do telejornal, Boris Casoy, lança seu comentário asqueroso: “Que merda... Dois lixeiros desejando felicidades... do alto de suas vassouras... Dois lixeiros... O mais baixo da escala do trabalho”.
Tanto esse vídeo como a sua "retratação" na noite seguinte estão bombando na internet e ambos dizem muito do caráter do jornalista, bem como nos remete à discussão sobre a chamada liberdade de expressão nos meios de comunicação.
Se pensarmos apenas no caráter do jornalista em questão, não há do que se espantar, pois aquele seu biquinho característico, sucedido da expressão "Isto é uma vergonha!", no mais das vezes, vinha/vem coroar comentários que revelam um posicionamento político reacionário, muitas vezes travestido de crítico, ético e independente.
Algumas entidades sindicais analisam a possibilidade de ingressar com representação junto à Procuradoria Geral da República. Através de um artigo do jornalista Altamiro Borges, leio que Beto Almeida, presidente da TV Cidade Livre de Brasília, fez uma comentário admiravelmente irônico de que seria saudável o “Boris prestar serviços comunitários por um tempo, varrendo ruas, para ter a oportunidade de fazer algo de útil aos seus semelhantes”.
Trata-se de mais um capítulo de uma discussão absolutamente atual sobre a liberdade de expressão que, coincidentemente, nesta primeira quinzena de dezembro, foi objeto de um acirrado debate em Brasília, por ocasião da 1a. Conferência Nacional de Comunicação. Mas, por outro lado, os desdobramentos ainda tímidos (se houverem) disso tudo descortina, também, o quanto somos "expectadores" (e não apenas "espectadores"), isto é, nos colocamos "por fora" disso. Nossa relação com esse espaço e serviço público é predominantemente marcada pelo atitude de passividade: não nos comunicamos com os meios de comunicação. Não exigimos tal ou qual tratamento para o conteúdo que eles produzem. Pouco influímos nos rumos desses veículos que são empresas, é verdade (portanto, há uma dimensão privada nos mecanismos de controle e de gestão), mas que atuam a partir de um instrumento chamado "concessão pública". Ou seja, o "ar" por onde as ondas de televisão trafegam, não é propriedade privada. É de todos. E somente com uma postura mais ativa a gente pode pensar em se ver livre das vergonhosas manifestações de preconceito que - envergonhados - flagramos corriqueiramente nesse que é o mais massivo instrumento midiático da contemporaneidade. À vossas vassoras!!!

P.S. Para quem quiser acessar o "erro técnico", no youtube: http://www.youtube.com/watch?v=0H9znNpeFao, com mais de 180 mil visualizações...

Comentários

Paulo Trigueiro disse…
Fiquei revoltado com esse tipo de atitude, principalmente dele, que tenta passar para o telespectador um homem puro, mas sei que esse tipo de comportamento é falto, como também de tantos outros que vivem na TV apontando erros de um e de outro.
Vou ficar por um longo tempo sem ouvir esse mentiroso, quando estiver dando sua opinião na TV mudo de canal. É o mínimo que posso fazer.

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