Pedindo a benção do Capitão Virgulino
Num dos momentos mais emocionantes de minha viagem às margens do Rio Opará (também conhecido como Rio São Francisco), fiz o trajeto da volante comandada pelo Tenente Bezerra, que resultou na emboscada que matou o Capitão Virgulino, Maria Bonita e mais alguns de seus companheiros de cangaço. É uma trilha (ainda) de difícil acesso. Demoramos 30 minutos para chegar na Grota de Angico, local do assassinato dos cangaceiros, conduzidos por uma guia de nome Neide. Éramos algo em torno de 30 pessoas. Ao chegármos no lugar exato onde ocorreu o massacre, Neide tentou fazer uma reflexão sobre o fenômeno do cangaço indicando a dificuldade de se julgar Lampião nos marcos da dualidade Bandido-Mocinho. Antes mesmo de ela terminar sua reflexão, uns dois participantes já foram dando seu veredicto: Bandido! Ainda assim Neide tentou (um tanto quanto inutilmente) convencê-los que não era possível resumir tudo a essa dualidade. Fiquei pensando que diante de esquemas conceituais e perspectivas organizadas nessa lógica dual não há como discutir muito, mas que talvez fosse mais interessante provocar aquelas pessoas (especialmente aqueles que já tinham um conceito formado de Lampião) sobre o porque de elas estarem ali visitando o local da morte de Lampião e não o túmulo de seu algoz, o Tenente Bezerra...Sobre o porque das imagens dos cangaceiros pairarem ao nosso redor em toda a produção artística e cultural (música, esculturas, pinturas, etc.) e não as imagens das volantes...Em por que o nome e imagem do Capitão Virgulino se fazem tão mais presentes no imaginário popular do que do homem que comandou seu fim...
Comentários