Impressões de viagem às margens do Rio Opará
Há anos não tinha dias inteiramente dedicados a mim mesmo. Este ano tive. O cancelamento do início de atividades de um Projeto somada à minha disposição em “sair do ar” foram determinantes.
Fiz um roteiro bacana. O objetivo era conhecer duas cidades que margeiam o rio São Francisco: Penedo-AL e Canindé do São Francisco-SE. Como de Natal para lá são aproximadamente 10h de viagem, resolvi fazer pausas em Recife (na ida), Maceió e João Pessoa (no retorno).
Como não dá para numa única postagem falar de tudo, então farei como Jack (o estripador), será “por partes”. Primeiro, então, falarei sobre Penedo-AL que carrega o título de Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural do Brasil.
Uma cidade maravilhosa. Um esplendor de casarios construídos durante o século XVIII. Uma espécie de Ouro Preto encravado no Nordeste. É claro que estou me referindo à parte antiga da cidade, pois há uma parte “nova”).
Segundo me informaram lá, Penedo foi a quarta cidade fundada no Brasil (há controvérsias) e por muito tempo foi o principal polo econômico às margens do Rio São Francisco (à época em que era navegável para grandes embarcações), fazendo com que a cidade fosse tão ou mais importante que Maceió.
Aliás, por muito tempo essa cidade (atualmente com pouco mais de 60 mil habitantes) pareceu estar “mais à frente” que Maceió em muitos aspectos, inclusive (e não apenas) o econômico. Parte disso se deveu a um de seus filhos mais notáveis: o Comendador José da Silva Peixoto. Como todo filho da elite local (e de boa parte das elites locais deste país), Peixoto foi mandado a estudar engenharia no Rio de Janeiro pelo pai. Durante as férias sempre retornava a Penedo e num desses retornos conheceu a mulher que se tornaria mãe de seus filhos e companheira até a morte. Essa paixão o fez abandonar o curso e voltar a residir em Penedo, momento a partir do qual passou a cuidar dos empreendimentos da família.
Entre esses empreendimentos, o que resta de mais marcante é o Hotel São Francisco, cuja história expressa o verniz “faústico” da perspectiva moderna burguesa (temática tão bem desenvolvida por Marshal Berman em seu livro “Tudo que é sólido se desmancha no ar”), incorporado por vários personagens históricos, lideranças políticas e econômicas.
O hotel (projetado e construído pelo filho do Comendador – ele, sim, formado em engenharia), inaugurado em 1962, dispunha de um padrão de estrutura e conforto que muitas capitais nordestinas não tinham. Inclusive no seu térreo havia um cinema que por muito tempo foi o mais importante cinema de Alagoas, o que proporcionou a cidade sediar um Festival de Cinema (de porte nacional) e ver desfilar pelas suas ruas grandes astros do cinema brasileiro numa de suas fases aúreas (década de 1970).
O “antigo” e o “novo” sempre tiveram Penedo como palco. Dom Pedro II se hospedou lá quando de uma viagem que fez para conhecer o Rio São Francisco e se convenceu que o Rio poderia ser um importante canal de desenvolvimento econômico e social de todo o Nordeste (a idéia da transposição, atribuída originalmente ao então Imperador brasileiro) teria nascido após essa viagem. O próprio Hotel, com sua arquitetura modernista, encravado em meio aos casarios setecentistas, representou, de certa forma, essa tentativa de anunciar o “progresso” e a “modernidade” que deveria marcar a cidade tão prisioneira de um passado grandioso mas que àquela altura já dava mostras de decadente. Uma modernidade que, na minha modesta opinião, perdeu a batalha, principalmente porque olhando hoje para a imagem do Hotel rodeado de casarões (na foto acima ele é o primeiro prédio da esquerda para a direita), ele já adquire uma aura de “passado”...Assim, temos duas épocas ladeadas...pensando bem, são duas tentativas de modernização...ambas expressões de um Brasil cuja elite desejava ser um pedaço da Europa encravado nos trópicos, afinal os casarões setecentistas também são expressões disso.
Fiz um roteiro bacana. O objetivo era conhecer duas cidades que margeiam o rio São Francisco: Penedo-AL e Canindé do São Francisco-SE. Como de Natal para lá são aproximadamente 10h de viagem, resolvi fazer pausas em Recife (na ida), Maceió e João Pessoa (no retorno).
Como não dá para numa única postagem falar de tudo, então farei como Jack (o estripador), será “por partes”. Primeiro, então, falarei sobre Penedo-AL que carrega o título de Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural do Brasil.
Uma cidade maravilhosa. Um esplendor de casarios construídos durante o século XVIII. Uma espécie de Ouro Preto encravado no Nordeste. É claro que estou me referindo à parte antiga da cidade, pois há uma parte “nova”).
Segundo me informaram lá, Penedo foi a quarta cidade fundada no Brasil (há controvérsias) e por muito tempo foi o principal polo econômico às margens do Rio São Francisco (à época em que era navegável para grandes embarcações), fazendo com que a cidade fosse tão ou mais importante que Maceió.
Aliás, por muito tempo essa cidade (atualmente com pouco mais de 60 mil habitantes) pareceu estar “mais à frente” que Maceió em muitos aspectos, inclusive (e não apenas) o econômico. Parte disso se deveu a um de seus filhos mais notáveis: o Comendador José da Silva Peixoto. Como todo filho da elite local (e de boa parte das elites locais deste país), Peixoto foi mandado a estudar engenharia no Rio de Janeiro pelo pai. Durante as férias sempre retornava a Penedo e num desses retornos conheceu a mulher que se tornaria mãe de seus filhos e companheira até a morte. Essa paixão o fez abandonar o curso e voltar a residir em Penedo, momento a partir do qual passou a cuidar dos empreendimentos da família.
Entre esses empreendimentos, o que resta de mais marcante é o Hotel São Francisco, cuja história expressa o verniz “faústico” da perspectiva moderna burguesa (temática tão bem desenvolvida por Marshal Berman em seu livro “Tudo que é sólido se desmancha no ar”), incorporado por vários personagens históricos, lideranças políticas e econômicas.
O hotel (projetado e construído pelo filho do Comendador – ele, sim, formado em engenharia), inaugurado em 1962, dispunha de um padrão de estrutura e conforto que muitas capitais nordestinas não tinham. Inclusive no seu térreo havia um cinema que por muito tempo foi o mais importante cinema de Alagoas, o que proporcionou a cidade sediar um Festival de Cinema (de porte nacional) e ver desfilar pelas suas ruas grandes astros do cinema brasileiro numa de suas fases aúreas (década de 1970).
O “antigo” e o “novo” sempre tiveram Penedo como palco. Dom Pedro II se hospedou lá quando de uma viagem que fez para conhecer o Rio São Francisco e se convenceu que o Rio poderia ser um importante canal de desenvolvimento econômico e social de todo o Nordeste (a idéia da transposição, atribuída originalmente ao então Imperador brasileiro) teria nascido após essa viagem. O próprio Hotel, com sua arquitetura modernista, encravado em meio aos casarios setecentistas, representou, de certa forma, essa tentativa de anunciar o “progresso” e a “modernidade” que deveria marcar a cidade tão prisioneira de um passado grandioso mas que àquela altura já dava mostras de decadente. Uma modernidade que, na minha modesta opinião, perdeu a batalha, principalmente porque olhando hoje para a imagem do Hotel rodeado de casarões (na foto acima ele é o primeiro prédio da esquerda para a direita), ele já adquire uma aura de “passado”...Assim, temos duas épocas ladeadas...pensando bem, são duas tentativas de modernização...ambas expressões de um Brasil cuja elite desejava ser um pedaço da Europa encravado nos trópicos, afinal os casarões setecentistas também são expressões disso.
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