Gaza: mais um capítulo no holocausto palestino


Publico abaixo um texto que nos ajuda a entender um pouco (ou um muito) do que ocorre na Faixa de Gaza. Algo que me deixa envergonhado como ser humano, pois após 13 dias de massacre, 763 palestinos já morreram e mais de 3200 foram feridos. Um terço das vítimas são crianças. O lado israelense, no mesmo período, perdeu 10 vidas, 8 dos quais são soldados. Estamos falando de dois povos, um invadido e ocupado militarmente pelo outro. Um tem o 4º exército mais forte do planeta. O outro nem exército tem. O texto é do prof. Mohamed Habib, Pró-Reitor de Extensão da Unicamp e Vice-Presidente do Instituto da Cultura Árabe (ICArabe).

"Tudo é calculado. Tudo é estrategicamente planejado. Tudo é eficientemente articulado, para que, hoje, possamos assistir a mais um massacre do povo palestino. Agora é na Faixa de Gaza. Quando Theodor Herzl, o pai intelectual do sionismo, publicou o seu famoso livro “O Estado Judeu”, em 1896 , que levou à formação da Organização Sionista Mundial (OSM), criada no Primeiro Congresso Sionista, realizado em 1897, todo o plano começou a ser criado. Nesse congresso decidiu-se pela criação de um estado judeu na Palestina no prazo de 50 anos. Que precisão! Mas que precisão? A Resolução 181 da ONU, do dia 29 / 11/ 1947, concedeu 53% da Palestina à comunidade judaica para a criação do Estado de Israel, enquanto o restante (47%) seria suficiente para os palestinos. Embora todos os países árabes, incluindo o estado palestino, estivessem ocupados militarmente pela Inglaterra, França, Espanha e Itália, foram contra a resolução da ONU.

Para saber o que de fato aconteceu naquele período de 50 anos, que terminou com a criação do Estado de Israel, algumas datas nunca devem ser esquecidas. Os massacres que o povo palestino sofreu dos grupos armados da comunidade judaica na Palestina nos anos 30 e 40. Os grupos armados “Irgun” e “Stern Gangs”, tanto quanto a Agência Judaica por Israel (AJI), foram considerados pelo governo britânico, no dia 24 de julho de 1946, como organizações terroristas devido aos massacres e à expulsão de palestinos de seus lares, cidades e lavouras.

Outra data é 1917, na qual o Ministro do Exterior da Inglaterra, Artur Balfour, conseguiu aprovar no Congresso britânico a sua proposta de apoiar o projeto sionista de criação de um estado judeu na Palestina. A manifestação ganhou, desde então, o rótulo de “Declaração Balfour”. Uma outra data é 1922, na qual a Liga das Nações aprovou o “mandato britânico na Palestina”, nome pomposo e um eufemismo para uma ocupação militar daquele país. E os britânicos anunciaram que sairiam da Palestina no prazo de duas décadas; até lá os palestinos estariam em boas condições para, autonomamente, governar o seu país. Os britânicos anunciaram, no dia 13 de maio de 1947, a sua retirada da Palestina. No dia seguinte, 14 de maio, foi proclamado o estado de Israel pelos líderes da comunidade judaica na Palestina. E, começou a novela dos massacres, desde então, realizados pelo exército israelense.

É um fantástico plano de expansão territorial, que dá de dez a zero no plano norte-americano de expansão territorial nas direções Oeste e Sul, no início e meados do século XIX, que aniquilou os povos indígenas e os mexicanos.

Desde 1967 até hoje, a área sobre a qual o estado israelense está instalado, equivale a 78% da original Palestina. E, ainda, desde a mesma data, o restante (22%), onde, hoje, vivem os palestinos, é ocupado militarmente pelo exército israelense, e os massacres nunca pararam. Esses territórios palestinos são chamados pela ONU de “territórios palestinos ocupados”. O pior é que essa porcentagem de 22%, onde os palestinos “vivem”, é dividida em duas áreas totalmente isoladas uma da outra sem nenhum contato. O palestino não tem o direito de se deslocar de uma área para outra, para visitar os seus familiares. Ainda mais: cada uma dessas duas áreas recebeu dezenas de assentamentos e colônias, que pela “lei” israelense se tornam territórios israelenses, com estradas que se interligam e que são, também, considerados territórios israelenses, onde o palestino não pode pisar e muito menos atravessar.

Resultado: o povo palestino está totalmente fragmentado, sem infra-estrutura mínima, sem exército e sem autonomia; enfim, uma nação em que a vida de seus habitantes não vale mais nada. Mas como a dignidade ainda não foi atingida, essa vida, que não vale mais nada, começa a ser usada nos momentos de desespero até mesmo como veículo explosivo contra alvos israelenses.

Ao longo das décadas, a tática é a mesma: efetuar, periodicamente, uma grande ofensiva; o mundo se assusta, mas esquece de discutir o conflito desde o seu início e tenta resolver apenas essa nova situação. Israel abre mão de uma parte do território conquistado na ofensiva, e, injustamente, conquista outro. O mais interessante refere-se aos acordos bilaterais firmados entre Israel e governantes árabes, alguns dos quais corruptos. A cláusula principal determina o não envolvimento destes em qualquer conflito entre Israel e qualquer outro país árabe, principalmente o conflito com os palestinos. É isto que deixa o Egito, além de vários outros países, com as mãos amarradas, sem poder fazer absolutamente nada diante de cada operação de massacre que os palestinos sofram.

Com a esperada posse de Barack Obama, marcada para o dia 20 de janeiro de 2009, e com a aproximação da data das eleições para o legislativo israelense, marcada para o dia 10 de fevereiro, é fundamental aproveitar as duas oportunidades para a consolidação de conquistas e assegurar uma governabilidade mais segura dentro de Israel. É uma tática a mais, presente no massacre de Gaza.

As eleições em Israel, que seriam realizadas em 2010, foram antecipadas, devido ao fracasso da líder do partido governista, o Kadima, Tzipi Livni, em formar uma coalizão de governo. "É importante que novas eleições sejam realizadas o mais rapidamente possível para reduzir incertezas, devido aos sérios desafios políticos, econômicos e de segurança que Israel tem", disse o porta-voz do Kadima, Smulik Dahan. De um lado, Obama chegando ao poder com Gaza invadida, daria a ele a condição de convencer Israel a sair, mediante condições muito mais desfavoráveis contra os palestinos. A saida, após Gaza arazada e massacrada, favoreceria a formação de uma coalizão de governo israelense mais viável para os próximos anos.

Assim é que foi planejada a atual “operação massacre” de Gaza. O comando israelense resolveu dar início ao seu projeto de limpeza étnica nesse território palestino, no qual, através do terror, mata uma boa parte dos palestinos em poucas semanas e expulsam o restante para o Egito. Em todos os dias do massacre, de dezembro de 2008 a janeiro de 2009, milhares de panfletos foram jogados por helicópteros israelenses nas diferentes cidades da Faixa de Gaza pedindo a saída da população e a evacuação de todo o território palestino. É mais um crime de guerra que o estado sionista vem cometendo para manchar, cada vez mais, a sua história e levar qualquer cidadão comum a perguntar: é possível que um povo que sofreu com o Holocausto nazista da Alemanha, permita que os seus governantes cometam crimes semelhantes contra crianças e civis indefesos de um outro povo?

Após 13 dias de massacre, 763 palestinos já morreram e mais de 3200 foram severamente feridos. Um terço das vítimas são crianças abaixo de 12 anos. O lado israelense, no mesmo período, perdeu 10 vidas, 8 dos quais são soldados. Estamos falando de dois povos, um invadido e ocupado militarmente pelo outro. Um tem o 4º exército mais forte e mais equipado do planeta. O outro nem exército tem. Um tem armas nucleares, aviões F-16 tanques e helicópteros militares de última geração. O outro sequer granada manual pode ter. Os grupos populares palestinos de resistência à ocupação estão sendo chamados pelo governo sionista, lamentavelmente, de terroristas. Parece-me que o estado israelense quer convencer o mundo de que os palestinos não podem ter o direito de se defender da violência e da barbárie, e sim a obrigação de morrer em silêncio. Aliás, sob o som dos bombardeios e dos mísseis israelenses, porém sem reclamar.

Mais uma página da história da humanidade está sendo escrita, hoje com o sangue palestino. Certamente chegará o dia em que futuras gerações judias sentirão vergonha de ter tido em seu estado judaico, governantes que não respeitaram um dos mais importantes mandamentos que Moisés trouxe para a humanidade; isto é: não matarás."

Comentários

dra.neurawm disse…
Penso que muitos de nós cidadãos comuns estejamos nos fazendo essa mesma pergunta nesse momento:
“É possível que um povo que sofreu com o Holocausto nazista da Alemanha, permita que os seus governantes cometam crimes semelhantes contra crianças e civis indefesos de um outro povo?”

Já estamos assistindo as organizações israelenses de Direitos Humanos se posicionando.

Por isso acredito que a “Carta aos judeus” do professor de filosofia Maurício Abdalla da UFES complementa o texto que você publicou aqui. A “Carta aos judeus” é um indignado clamor que nos convoca a uma profunda reflexão. Ela foi referendada e publicada por Frei Betto no “amai-vos.com.br”, no “edital.org.br” e republicada em diferentes blogs.

Esse link dá acesso à “Carta aos judeus”:
http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=36782

Abraços com laços!

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