Mais uma vez o cancão pia...a nova (velha?) crise (e saída da crise) capitalista


Mais uma vez o capitalismo saracotica em desespero pelas perdas geradas no seio do próprio processo de especulação financeira. O mais notável dessa nova crise é a saída encontrada pelas elites globais: uma espécie de estatização dos bancos.
O Estado, tido pela cantilena dos liberais contemporâneos como espaço por excelência da ineficiência e cujo destino deveria ser a pequenez, tornou-se, então, o garantidor/fiador de que o caos não é o horizonte provável, mas apenas um momento superável.
A imprensa e os políticos liberais brasileiros e de outros países, tão virulentos no seu combate às políticas de fortalecimento de mecanismos estatais de controle e regulação, são obrigados, agora, a saudar (em silêncio obsequioso) a saída "estatal" da crise.
Abaixo, a opinião de um economista cujas opiniões são bastante sensatas, o Paulo Nogueira Batista Júnior, publicada pela Folha logo no ínicio da crise.

"O triste fim de Wall Street"

Não sei se, neste momento, o brasileiro tem uma idéia precisa do tamanho da rejeição da população americana ao resgate de até US$ 700 bilhões proposto para salvar Wall Street e proteger a economia do impacto da crise financeira. A impopularidade da turma da bufunfa bateu todos os recordes possíveis e imagináveis. Como diria Nelson Rodrigues, banqueiros e financistas estão sendo caçados a pauladas, feito ratazanas prenhes.
Essa rejeição popular às vésperas de eleições presidenciais e parlamentares aqui nos Estados Unidos é que explica a derrubada da proposta de resgate na segunda-feira, a despeito dos apelos dramáticos do governo, do acordo com as lideranças republicanas e democratas do Congresso e do apoio dos candidatos dos dois partidos à Presidência da República – os senadores John McCain e Barack Obama.

Agora prepararam uma terceira versão do Plano Paulson, que começou a tramitar no Senado. No momento em que escrevo, o Senado ainda não votou a nova versão. Espera-se que os senadores a aprovem.

Retomo o que disse no artigo da quinta-feira passada: não se pode excluir um cenário-catástrofe em que a Câmara dos Deputados acabe derrubando também a terceira edição do Plano Paulson.

Isso é provável? Não acredito. O mais provável é que a segunda versão passe.

Mesmo assim, não vamos nos iludir: o Plano Paulson, ainda que substancialmente revisto, ampliado e emendado, não põe fim à crise financeira internacional. Conseguirá, no máximo, proporcionar uma trégua por alguns meses. A situação financeira nos Estados Unidos -e também na Europa- é calamitosa.

Instalou-se o pânico. Em vários países desenvolvidos, começaram a acontecer corridas contra instituições financeiras. A verdade é que grande parte do sistema está enfrentando problemas de solvência. Muitas instituições estão à beira do colapso, lutando pela sobrevivência.
Como observou o economista James Galbraith (filho do grande John Kenneth Galbraith), o Plano Paulson não enfrenta adequadamente os problemas econômicos e financeiros subjacentes à crise atual. O que se pode esperar é que ele evite a desintegração completa do sistema financeiro e crie uma ponte até a posse do próximo governo dos Estados Unidos, que se dará em janeiro de 2009 (a menos que haja alguma antecipação).
Entre os economistas e especialistas em finanças, cresce a convicção de que a compra pelo governo de ativos podres, ainda que em grande escala, não é o caminho para estabilizar o sistema financeiro a um custo aceitável para os cofres públicos.

Tanto aqui nos Estados Unidos como na Europa percebe-se que uma crise como a atual -a mais profunda desde a Grande Depressão da década de 1930- exigirá uma recapitalização maciça dos bancos pelos governos por meio da compra de ações preferenciais.

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