VENTOS E EXÍLIOS ELÍSIOS
O vento já não corria em minha volta...
Já fazia tempo...
E eu, cego, negava isso.
Havia desespero no negar.
Inconsciente...que me tornava minúsculo...
A negação de mim...um exílio.
Na verdade, nem ele percebeu
que já não estava ao meu redor.
Foi se desencaminhando...
Levando consigo desejos, dores,
arroubos, entregas e lembranças...
Nesse desembestar-se, por vezes,
soprou-se em outros cabelos,
Em outras paragens, para ti, para alhures...
Quando fui percebê-lo
já não estava por perto,
já não alisava meus cabelos,
já não refrescava meu calor,
apenas era brisa calma, tranquila...
seu furor dedicava-se a outras praias.
Ele havia se exilado de mim.
E eu exilei-me de mim também.
Me deixei transformar-se em coisa...
Me vi bolsa pendurada em mesas de bar,
Banco de carro dormindo em estacionamentos,
Travesseiro acolhedor de sonos profundos.
Um dia escorreguei da mesa, acordei...
Aos poucos fui me dando conta:
Exilado de mim, sequer conseguia
sentir quando aquele vento
soprava de novo em minha direção.
Tentei sair do exílio,
Ouvindo choros trazidos pelo vento.
Me senti culpado.
Sujo.
Ainda assim, outros ventos me chegaram,
límpidos, elísios, sopravam lentos,
mas contínuos...
Me traziam paz em meio à minha guerra interior.
Um dia, navegando em mares revoltos,
uma tempestade me balançou.
Os pingos grossos embaçaram meus olhos.
Não resisti e resolvi me jogar no mar,
Me desfiz de meu barco
e me entreguei às cegas àquela ventania.
Me deixei arrastar.
Como um kamikase...
Com meus sentidos voltados totalmente
a sentir a última rufada de vento
e, ao mesmo tempo, o início de um novo tempo.
Iludi-me. Ventos não se entregam a ninguém.
Nós os conhecemos mas não os vemos.
Como antes, eles foram se dissipando.
Os vi preocupados em circularem por outras mesas,
sorridentes, entregues...
Dedicados a outros cabelos.
Esquecidos de mim...exilados de mim.
Por vezes ao chegarem à minha mesa,
estavam cansados, exaustos,
sonolentos...
Me tinham como o travesseiro de estimação.
O local seguro para um sono tranquilo.
Cada vez que me vi preso neste lugar,
uma chaga se abria.
Uma dor emergia.
Um sonho se desfazia.
Por fim ele me disse:
‟Eu varro a cidade,
você me conhece e não pode me ver...
Talvez o tempo me faça conhecedor
de mim e dos meus desejos
e é muito justo que você não queira
esperar por isso‟...
Corre vento...
Quem sou eu para prender-te a mim,
se sua natureza é o de apegos fugidios?
Vá animar generosamente
as asas de viventes,
bemtevis, beija-flores, juritis...
Enquanto isso,
travesseiros e bolsas de estimação,
não ficarão inertes,
tornar-se-ão pássaros para outros ventos.
Já fazia tempo...
E eu, cego, negava isso.
Havia desespero no negar.
Inconsciente...que me tornava minúsculo...
A negação de mim...um exílio.
Na verdade, nem ele percebeu
que já não estava ao meu redor.
Foi se desencaminhando...
Levando consigo desejos, dores,
arroubos, entregas e lembranças...
Nesse desembestar-se, por vezes,
soprou-se em outros cabelos,
Em outras paragens, para ti, para alhures...
Quando fui percebê-lo
já não estava por perto,
já não alisava meus cabelos,
já não refrescava meu calor,
apenas era brisa calma, tranquila...
seu furor dedicava-se a outras praias.
Ele havia se exilado de mim.
E eu exilei-me de mim também.
Me deixei transformar-se em coisa...
Me vi bolsa pendurada em mesas de bar,
Banco de carro dormindo em estacionamentos,
Travesseiro acolhedor de sonos profundos.
Um dia escorreguei da mesa, acordei...
Aos poucos fui me dando conta:
Exilado de mim, sequer conseguia
sentir quando aquele vento
soprava de novo em minha direção.
Tentei sair do exílio,
Ouvindo choros trazidos pelo vento.
Me senti culpado.
Sujo.
Ainda assim, outros ventos me chegaram,
límpidos, elísios, sopravam lentos,
mas contínuos...
Me traziam paz em meio à minha guerra interior.
Um dia, navegando em mares revoltos,
uma tempestade me balançou.
Os pingos grossos embaçaram meus olhos.
Não resisti e resolvi me jogar no mar,
Me desfiz de meu barco
e me entreguei às cegas àquela ventania.
Me deixei arrastar.
Como um kamikase...
Com meus sentidos voltados totalmente
a sentir a última rufada de vento
e, ao mesmo tempo, o início de um novo tempo.
Iludi-me. Ventos não se entregam a ninguém.
Nós os conhecemos mas não os vemos.
Como antes, eles foram se dissipando.
Os vi preocupados em circularem por outras mesas,
sorridentes, entregues...
Dedicados a outros cabelos.
Esquecidos de mim...exilados de mim.
Por vezes ao chegarem à minha mesa,
estavam cansados, exaustos,
sonolentos...
Me tinham como o travesseiro de estimação.
O local seguro para um sono tranquilo.
Cada vez que me vi preso neste lugar,
uma chaga se abria.
Uma dor emergia.
Um sonho se desfazia.
Por fim ele me disse:
‟Eu varro a cidade,
você me conhece e não pode me ver...
Talvez o tempo me faça conhecedor
de mim e dos meus desejos
e é muito justo que você não queira
esperar por isso‟...
Corre vento...
Quem sou eu para prender-te a mim,
se sua natureza é o de apegos fugidios?
Vá animar generosamente
as asas de viventes,
bemtevis, beija-flores, juritis...
Enquanto isso,
travesseiros e bolsas de estimação,
não ficarão inertes,
tornar-se-ão pássaros para outros ventos.
Comentários
Inutensílio (Paulo Leminski)
Eu acho que... a poesia, ela é um inutensílio. A única razão de ser da poesia é que ela faz parte daquelas coisas inúteis da vida que não precisam de justificativa porque elas são a própria razão de ser da vida. Querer que a poesia tenha um porquê, querer que a poesia esteja a serviço de alguma coisa é a mesma coisa que você querer por exemplo que um gol do Zico tenha uma razão de ser, tenha um porquê além da alegria da multidão é a mesma coisa que querer por exemplo que o orgasmo tenha um porquê é a mesma coisa que querer por exemplo que a alegria da amizade e do afeto tenha um porquê. Eu acho que a poesia faz parte daquelas coisas que não precisam ter um porquê. Prá que porquê?
Abraços