A morte e a vida em Dorival Caymmi

A morte de Dorival Caymmi será lembrada por muitos, por muito tempo. Sua contribuição à música popular brasileira será sempre enaltecida. Minha formação musical, forjada nos sertões urbanos de Caicó, não incorporou a sua obra. Nasci e cresci sem conhecer Dorival senão pelas meteóricas aparições suas em programas de televisão, seja como entrevistado, seja como objeto de homenagens.
Assim, não tenho como falar de suas qualidades musicais ou tecer comentários qualificados sobre sua obra. Minha referência dele se relaciona a um comentário singelo feito por ele numa entrevista quando foi perguntado sobre qual seria sua maior alegria como músico e ele, simplesmente, disse que ficaria realizado se suas músicas perdurassem cantadas na boca do povo como domínio público, reproduzidas geração a geração sem que ninguém soubesse a origem e a autoria.
Fiquei encantado e emocionado com a aparentemente inusitada resposta porque ela sintetizava sua perspectiva do jogo da vida e da morte da obra humana. A eternidade não como feito de um indivíduo mas como entranhamento e absoluta interpenetração dele com a sua cultura, seu povo, seus iguais. Uma eternidade que só se estabelece quando o tempo engole acontecimentos seminais como o nascimento e a morte e se deixa marcar pelo que os humanos realizam entre um e outro ponto da existência.

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